A menos de 50 dias para o início da nova safra brasileira de grãos, com os primeiros hectares sendo semeados em Mato Grosso, a velha ameaça das plantas guaxas que hospedam inimigos dos principais cultivos de verão, como a soja, volta a preocupar o segmento. Desta vez, além da pressão das rebrotas dentro das propriedades, como no entorno de áreas produtivas, são as plantas germinadas nas margens das rodovias que têm tirado o sono das autoridades, já que elas, além de abrigarem fungos como o da ferrugem asiática e estarem com sintomas aparentes da doença, são de difícil destruição porque ninguém se responsabiliza pela eliminação e elas seguem se multiplicando de norte a sul do Estado em plena entressafra.
As plantas guaxas, ou tigueras, são aquelas que se desenvolvem de maneira voluntária. São grãos perdidos das colheitadeiras, dos caminhões que transportam os grãos dentro das fazendas como nas rodovias. Essas plantas se desenvolvem e servem de abrigo e alimento para fungos e insetos que deveriam, com o período da entressafra, ser eliminados. A manutenção dessas plantas serve de ponte verde entre uma safra e outra e leva para o novo ciclo toda a pressão fitossanitária da temporada anterior. Nesse ano, com o custo de produção ampliado em 5% em relação à safra passada, atingindo novo recorde de R$ 2,43 mil por hectare no Estado, a pressão dos inimigos será, como nunca, determinante para a rentabilidade do produtor.
Por força de um decreto que criou o Vazio Sanitário, período em que fica proibida a existência de plantas vivas de soja por 90 dias no Estado, de 15 de junho a 15 de setembro, produtores são obrigados a eliminar as guaxas de suas propriedades, mas existem plantas em áreas onde não há atividade agrícola ou que pertencendo ao governo.
Como explica o coordenador da Comissão de Defesa Sanitária Vegetal do Ministério da Agricultura em Mato Grosso (CDSV/Mapa), Wanderlei Dias Guerra, os produtores, pouco a pouco, estão entendendo a importância do vazio sanitário, assumindo suas responsabilidades. No entanto isto ainda não é consciência total, muitos têm sido autuados e outros tantos escapam à fiscalização. As guaxas, tomadas pela ferrugem – doença fúngica -, ficam escondidas no meio de lavouras de segunda safra como milheto, crotalária ou descaradamente onde nada foi semeado. “Basta comunicar essa ocorrência ao órgão de defesa vegetal da cidade ou o Sindicato Rural, isto é para o bem coletivo!”, exclama o fiscal do Mapa.
Mesmo registrando inúmeras guaxas em área particulares, Dias Guerra reconhece que o grande problema em relação ao vazio sanitário, “além de alguns produtores irresponsáveis, ainda são as guaxas às margens das rodovias e dentro das cidades. As que ficam nas estradas, em frente às propriedades rurais, têm lei que disciplina sua destruição, responsabilidade do proprietário. O problema são as que ficam em trechos de áreas não cultivadas”. Para esses casos, Dias Guerra explica que a intenção é chegar a um acordo com a Aprosoja Brasil para que eles se tornem responsáveis pela destruição destas plantas. Nas cidades, seria uma importante ação a ser adotada pelas Secretarias municipais de Agricultura. “Fiz alguns trabalhos em alguns municípios, mas a ideia ficou restrita aos locais em que fui e acompanhei. Pergunto-me: Será que as prefeituras não contabilizam o quanto perdem com a doença? Ou seria mais um caso de visão curta, acreditando ser uma atividade que não rende votos?”.
TRANSPORTE - Dias Guerra cita o artigo 231 da lei 9503/97, do Código Brasileiro de Trânsito que regulamenta o derramamento, lanc?amento ou arraste sobre a via da carga que esteja sendo transportada. “É infrac?a?o gravi?ssima, sujeita à multa e retenc?a?o do vei?culo para regularização, mas isso ocorre diariamente em todas as rodovias brasileiras e nada é feito, especialmente em relação aos produtos agrícolas. Apesar de aparentemente menos grave, além de ser um crime o desperdício de alimentos, os grãos viram locais de hospedagem de dezenas de pragas, dentre elas a ferrugem asiática, Helicoverpa, bicudo do algodoeiro, mosca branca, só para citar alguns inimigos das nossas lavouras”. Como completa, “alguns podem alegar as péssimas condições das rodovias, o que é verdade, mas, ainda assim, o maior problema é a má vedação das carroçarias ou excessos de carga. Este problema precisa ser resolvido com urgência, os prejuízos vão muito além do alimento perdido. As pragas que se multiplicam livremente às margens das estradas brasileiras são as que primeiro chegam às lavouras, ampliando a necessidade de pesticida e os prejuízos. Além disso, este farto alimento servido nas estradas, é atrativo para animais silvestres que, em grande número, ficam ali mesmo, mortos e, em alguns casos, causando acidentes nas estradas”.