Em Chicago, os futuros da soja têm uma manhã de oscilações bem pouco expressivas na manhã desta quarta-feira (11). Por volta das 7h30 (horário de Brasília), as posições mais negociadas subiam pouco mais de 1 ponto, tentando iniciar uma recuperação depois das baixas de dois dígitos registradas na sessão anterior.
O mercado não se surpreendeu muito com os números do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) divulgados ontem, já que o reporte trouxe pouquíssimas mudanças, e segue operando de forma técnica, sem se ater muito a seus já conhecidos fundamentos, de acordo com o que explicam analistas.
Em contrapartida, no Brasil as cotações seguem sendo favorecidas pela escalada do dólar frente ao real, que fechou, nesta terça-feira (10), com alta de 2% e a R$ 2,83, maior nível em 10 anos. Com isso, os preços da oleaginosa fecharam entre R$ 64,50 e R$ 65,20 nos portos brasileiros.
Veja como fechou o mercado nesta terça-feira:
Soja foca no dólar e fecha com mais de R$ 65 em Rio Grande, apesar da queda em Chicago
Nesta terça-feira (10), o dólar subiu mais de 2%, fechou a R$ 2,8364 e encerrou o dia com o mais alto patamar desde 1º de novembro de 2004. Com isso, os preços da soja no Brasil mais uma vez foram beneficiados e, apesar das baixas registradas na Bolsa de Chicago, terminaram os negócios com patamares importantes, principalmente nos portos.
Em Rio Grande, a soja com entrega para maio/15 ficou em R$ 65,20 por saca, subindo 1,56%. Já no terminal de Paranaguá, a oleaginosa a se entregue em abril/15 terminou o dia valendo R$ 64,50 e assumindo uma alta de 0,78%. A soja disponível no terminal gaúcho ficou em R$ 65,00, com ganho de 1,56%.
No interior do país, os valores praticados nas principais praças de comercialização também subiram e em algumas localidades, como São Gabriel do Oeste, no Mato Grosso do Sul, o avanço foi de mais de 10% para R$ 53,00 por saca. Em Não-Me-Toque, no Rio Grande do Sul, os preços subiram 0,93% para R$ 54,50.
Há alguns dias, o mercado interno brasileiro vem registrando ganhos importantes em decorrência dessa forte valorização do dólar frente ao real, motivada por apreensões sobre o cenário político e financeiro internacional e ainda sobre a turbulência assistida no Brasil nos dois quadros.
"As moedas emergentes têm sofrido de maneira geral, mas o cenário da economia brasileira está muito deteriorado", resumiu o operador de câmbio da corretora Correparti João Paulo de Gracia Correa em entrevista à agência Reuters. E essa deterioração se dá, entre outros fatores, pelas dúvidas a respeito do futuro da Petrobras e as incertezas sobre a condução da economia brasileira pela equipe do governo da presidente Dilma Rousseff.
Apesar disso, os negócios no Brasil ainda são pontuais e a comercialização segue caminhando em um ritmo bem mais lento do que o registrado em temporadas anteriores. Os produtores, segundo analistas, aguardam por uma melhor definição da safra brasileira, de uma consolidação da alta do dólar e, consequentemente, de novas oportunidades mais atrativas de vendas.
Em uma nota divulgada nesta segunda-feira (9), o consultor Flávio França Junior, da França Junior Consultoria, estimou as vendas do Brasil em cerca de 34% da safra, enquanto, nesse mesmo período do ano passado, a comercialização já estava perto de 45% e, em 2013, em 52%.
A colheita no Brasil se desenvolve bem até o momento, porém, a marca registrada dessa safra 2014/15 continua sendo a irregularidade. Se algumas regiões apontam produtividade recorde, outras registram perdas extremas e irreversíveis, mantendo divergentes as projeções das mais diferentes consultorias privadas. Enquanto a FCStone aposta em 92,8 milhões de toneladas e a Cerealpar em 92,5 milhões de toneladas, a AgRural acredita em 91,9 milhões, a Abiove em 92,3 milhões e o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) em 94,5 milhões de toneladas.
Bolsa de Chicago
Na sessão desta terça-feira, os futuros da soja negociados na Bolsa de Chicago terminaram o dia perdendo entre 9,50 e 11 pontos entre os principais vencimentos. O mercado, ainda de acordo com analistas, ignorou os números divulgados pelo USDA em seu novo boletim mensal de oferta e demanda já que os novos dados trouxeram pouca ou nenhuma mudança, ficando, praticamente, em linha com as expectativas dos traders.
Para Steve Cachia, consultor de mercado da Cerealpar, "o efeito dos números do USDA sobre os preços já não tem a mesma magnitude das últimas décadas. O mercado precifica os números com antecedência, não há porque influenciar direto, salvo alguma grande surpresa".
Dessa forma, Cachia atribui as baixas desta terça à uma pressão vinda do recuo das cotações do óleo de soja - que caíram diante de estoques maiores e um consumo menor de biodiesel - além de um movimento de vendas de posições nos mercados vizinhos à soja, como o milho e o trigo.
A opinião de Ênio Fernandes é semelhante e o consultor afirma que o mercado exibiu um movimento bastante técnico, "comprando o boato e vendendo o fato", diz. "O mercado vinha em alta pois acredita em uma queda na safra do Brasil. Porém, quase todo mundo acreditava que o USDA não colocaria esta quebra toda agora. Pois bem, na sessão anterior o mercado subiu 5 pontos, hoje entregou um pouco mais. O mercado estava precificado e passou por esse movimento técnico", completa.
Números do USDA
Soja EUA - Os estoques finais de soja dos EUA foram revisados para baixo e foram reportados em 10,48 milhões de toneladas, contra as 11,16 milhões do boletim de janeiro. A expectativa média do mercado, entretanto, era ligeiramente maior e ficava em 10,94 milhões de toneladas.
Ainda no quadro norte-americano, o USDA aumentou seus números para as exportações de soja do país de 48,17 milhões para 48,72 milhões de toneladas e também os dados de esmagamento, que passaram de 48,44 milhões para 48,85 milhões de toneladas.
Soja Mundo - A produção mundial de soja foi reportada em 315,06 milhões de toneladas, enquanto que no mês anterior esse número veio em 314,37 milhões de toneladas. Porém, os estoques finais globais recuaram e passaram de 90,78 milhões para 89,26 milhões de toneladas.
Sobre os números da América do Sul, o USDA cortou a produção brasileira de 95,5 milhões para 94,5 milhões de toneladas, o que ficou dentro do que o mercado esperava, e aumentou, por outro lado, a produção da Argentina de 55 milhões para 56 de toneladas. A expectativa, porém, era de uma revisão menos expressiva, para algo próximo de 55,2 milhões de toneladas.
A safra chinesa também foi elevada e passou de 11,8 milhões para 12,35 milhões de toneladas e os estoques finais chineses passaram de 14,03 milhões para 14,23 milhões de toneladas. As importações da nação asiática, porém, foram mantidas pelo USDA em 74 milhões de toneladas.