Na manhã desta quarta-feira (1) e depois de uma sessão nervosa e altas superiores a 50 pontos, o mercado internacional da soja opera com estabilidade na Bolsa de Chicago. Por volta das 7h30 (horário de Brasília), os únicos contratos com variações eram o agosto/15, que subia 1 ponto e era cotado a US$ 10,50, e o novembro/15, caindo 1,50 a US$ 10,35 por bushel.
Esse movimento já era esperado por analistas e consultores, uma vez que, apesar dos números considerados altistas para as cotações, o mercado continua acompanhando com atenção o cenário climático dos Estados Unidos e o desenvolvimento da nova safra do país. Ao mesmo tempo, fundos de investimento seguem atuando e também atentos ao direcionamento dos preços a fim de iniciarem um novo mês bem posicionados.
Veja como fechou o mercado nesta terça-feira:
Soja: Mercado fecha com mais de 50 pontos de alta em Chicago nesta 3ª com USDA e chuvas nos EUA
Os preços da soja praticados na Bolsa de Chicago fecharam com mais de 50 pontos de alta na sessão desta terça-feira (30). As cotações, após os relatórios trazidos pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), engataram em um forte movimento de alta, sustentado até o fechamento do pregão, com o contrato julho/15 encerrando os negócios em US$ 10,56 por bushel e o novembro/15 em US$ 10,37. O contrato maio/16, referência para a nova safra da América do Sul, também subiu expressivamente e fechou o dia com US$ 10,11/bu.
O mercado, segundo explicaram analistas, foi surpreendido pelos números trazidos pelo departamento agrícola norte-americano e conta ainda com as adversidades climáticas que são sentidas nos Estados Unidos durante o início da safra 2015/16. Tanto os estoques trimestrais em 1º de junho no país, quanto a área de plantio da próxima safra ficaram abaixo das expectativas dos traders e os dados atuaram como combustível para os ganhos.
E no Brasil, apesar dos prêmios sendo pressionados com essas altas na CBOT e do dólar mais baixo, porém, ainda mantendo o patamar dos R$ 3,10, os preços conseguiram absorver e refletir parte desse dia positivo no mercado futuro americano. No terminal de Rio Grande, o preço da soja disponível subiu 4,63% para R$ 74,50, enquanto o produto da nova safra apresentou elevação de 2,98% para terminar o dia com R$ 76,00 por saca.
Em Paranaguá, devido à intensa movimentação das cotações em Chicago e das oscilações no mercado interno com a 'briga' entre compradores e vendedores, o dia terminou sem uma referência bem definida para os valores nesta terça. Como relatou o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, para a soja disponível o interesse dos compradores era de garantir a soja entre R$ 69,00 e R$ 70,00 por saca no porto paranaense, enquanto os vendedores tinham como meta valores entre R$ 72,00 e R$ 73,00. No caso dos negócios para entrega em maio/16, os compradores ofertavam no máximo R$ 73,00, enquanto vendedores pediam entre R$ 75,50 e R$ 76,00.
Ainda segundo Brandalizze, os preços tiveram, com essas altas em Chicago, espaço para trabalhar com valores de R$ 1,50 a R$ 2,00 por saca acima dos registrados nos últimos dias. "Mas toda essa agitação assustou os compradores que, com os ganhos fortes em Chicago, ficaram sem saber para onde ir. Por isso, os negócios fluíram pouco no Brasil", explicou.
Altas em Chicago
Para a safra 2015/16 dos EUA, a área de soja foi estimada em 34,44 milhões de hectares, 2% maior do que o registrado em 2014, porém, abaixo das expectativas do mercado, que trabalhavam com uma média de 34,533 milhões. Caso essa área se concretize, será recorde no caso da oleaginosa.
No entanto, o excesso de chuvas no Meio-Oeste americano desde maio preocupa, principalmente, sobre a conclusão do plantio da soja em alguns estados e essas incertezas, mas principalmente expectativas, devem causar muita volatilidade e especulação no mercado internacional nas próximas semanas.
Como explicou Marcos Araújo, analista de mercado da Agrinvest, é necessário que o acompanhamento sobre a nova safra dos Estados Unidos continue para se saber para onde vão os preços e que consistência tem novas altas ou baixas acentuadas que possam vir a ser registradas pelas cotações daqui em diante. Araújo lembra ainda que agosto é o mês decisivo para as lavouras norte-americanas, pois é quando sua produtividade passa a ser definida.
Para Brandalizze, nesse período serão importantes ainda as informações sobre as temperaturas no Meio-Oeste americano. Caso seja muito elevadas, passando de 35ºC podem preocupar, porém, caso sejam mais amenas, podem garantir bom rendimento, principalmente porque os índices de umidade do solo estão bastante elevados.
Na última previsão para os próximos 6 a 10 dias, do NOAA - departamento oficial de clima dos EUA - nos principais estados do Corn Belt, as temperaturas têm mais de 30% de probabilidade de chances de ficarem abaixo da média para o período. Nesse mesmo intervalo, as chuvas na região podem têm mais de 50% de chance de ficarem acima do normal.
No intervalo seguinte, as condições são bastante semelhantes e as chuvas perdem mais força nos principais estados produtores de grãos do Meio-Oeste americano.
Paralelamente às informações da nova safra americana, o mercado recebeu ainda os dados dos estoques trimestrais em 1º de junho nos Estados Unidos e os números ficaram em 1 milhão de toneladas menores do que as expectativas do mercado.
Os estoques trimestrais de soja foram estimados pelo departamento em 17,01 milhões de toneladas, contra a média das projeções de 18,48 milhões de toneladas. Em março, os números eram de 36,306 milhões de toneladas. Em relação a junho de 2014, o volume é 54% maior.
"A estimativa para os estoques de soja em 1º de junho fez a terra tremer nesta terça. Ela implica em uma safra 2014 menor em 2,72 milhões de toneladas (100 milhões de bushels) nos EUA em relação à última estimativa oficial", acredita o analista sênior internacional Bryce Knorr, do portal Farm Futures. "Com 5 milhões de acres (2,02 milhões de hectares) ainda não plantados, o mercado está colocando prêmios de risco tanto nos preços da soja da safra velha, quanto da nova", afirma.
Apesar dessas boas informações trazerem fundamentos de importância e estímulo ao mercado, um intenso movimento de compra de posições por parte dos fundos de investimento também motivou os ganhos na Bolsa de Chicago. "É final de mês, do segundo trimestre do ano e os balanço dos grandes investidores, com os ganhos desta terça, ficarão muito bons", explica Marcos Araújo. "Porém, em algum momento, eles terão que embolsar esses lucros e podem iniciar uma liquidação de posições", completa.
Nesta terça, os fundos compraram 40 mil contratos de soja após terem vendido 4 mil na última segunda-feira (29).
Condições da safra dos EUA e incertezas sobre a área
Chuvas acumuladas até 28 de junho nos EUA - Fonte: ProFarmer
A estimativa para área de plantio da soja nos EUA vem de encontro a um cenário de clima que causa incertezas sobre a consolidação dessa área e intensifica as especulações sobre o mercado. Esse é o sentimento mais comum entre analistas nacionais e internacionais.
"A estimativa do USDA para a área de soja não parece refletir a realidade dos campos diante das fortes chuvas registradas em junho, uma vez que os dados foram coletados somente nas duas primeiras semanas do mês. Misteriosamente, o USDA acredita em menos abandono de áreas no boletim divulgado nesta terça do que estimou em no boletim mensal de oferta e demanda deste mês", explica Bryce Knorr.
Após a chegada do boletim, o USDAdivulgou, na tarde desta terça-feira (30), uma nota oficial afirmando que a pesquisa para o levantamento da área de plantio será refeito em alguns estados do Meio-Oeste por conta dos impactos de adversidades e divergências climáticas em diversas culturas. Os resultados, caso mostrem diferenças muito acentuadas, serão reportados em um boletim em setembro.
Abaixo, a nota oficial:
"O clima impactou safras por todo os Estados Unidos este ano. Muitos estados passaram por secas, enquanto outros tantos passaram pela primavera mais úmida e chuvosa da história. Por conta desse cenário climático, um percentual de área ainda não foi plantado, como o algodão no Texas (com 58% da área total dos EUA), o sorgo no Kansas (37% do total) e a soja no Arkansas, Kansas e Missouri (representando, juntos, 15% da área total dos Estados Unidos).
Para assegurar a precisão das estimativas finais para todas as culturas, a agência NASS (do USDA), irá refazer a pesquisa com produtores dessas regiões. Se os novos dados mostrarem mudanças em relação às informações atuais, eles serão divulgados atualizados em seu novo boletim de oferta e demanda do dia 12 de agosto".