Os preços do milho no mercado doméstico brasileiro seguirão “muito altos” ao menos até o primeiro semestre de 2017, avaliou ontem o sócio-diretor da Agroconsult, André Pessôa. “Nossa expectativa é que só no segundo semestre do ano que vem o mercado começa a ter chance de estabilização”, disse, durante o seminário promovido ontem pela BM&Bovespa.
Segundo Pessôa, a área plantada com milho na safra de verão 2016/17 vai crescer, mas não o suficiente para restabelecer os estoques do grão, que se reduziram nesta safra diante da forte demanda externa. Nesse quadro, os produtores de aves e suínos seguem pressionados.
Para ele, a recuperação dos estoques de milho no Brasil só tende a ocorrer após a safra de inverno, colhida a partir do primeiro semestre. Mas isso só será possível, disse, se não houver problemas climáticos. Pelas estimativas da Agroconsult, a área da safra de inverno 2016/17 deve crescer 1 milhão de hectares.
A escassez e os preços elevados do milho neste ano devem servir de “aprendizado” para a indústria de aves e suínos, acrescentou Pessôa. “Quem não havia percebido, tem que perceber que o milho [brasileiro] é um mercado de exportação”, afirmou.
Por conta disso, a indústria terá de se adaptar e fazer compras antecipadas do grão, sob pena de ficar exposta a um risco muito alto. “Vamos ter dinâmicas de aquisição antecipada tal qual na soja”.Nem mesmo a estratégia de comprar o milho brasileiro que já estava contratado para a exportação neste ano será suficiente para amenizar os preços no Brasil, avaliou.
Segundo ele, isso só transferirá a demanda pelo milho do Brasil para os Estados Unidos, o que acabará impulsionando os preços do milho na bolsa de Chicago. Ainda que possam não impactar significativamente os preços do milho, o secretário de política agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller, destacou ontem, no seminário, que essa estratégia pode ajudar a abastecer a agroindústria, que enfrenta escassez de oferta.
Segundo Geller, uma parte da demanda por milho será atendida pelo retorno de parcela do milho que já foi exportado. Ele evitou, no entanto, dar uma estimativa de quanto milho vendido para fora do país – que representa pouco mais de 30% da produção prevista para esta safra – pode voltar para abastecer a agroindústria. Geller também pregou cautela com o uso das 500 mil toneladas de milho que estão nos estoques da Conab.
A preocupação, segundo o secretário, é que essa oferta entre no mercado concomitantemente à entrada da produção de milho da segunda safra, que começa a ser colhida. “Não podemos concorrer com a produção agora e correr o risco de essa produção ir para o mercado internacional”, afirmou Geller.