Nos municípios de vocação agrícola (e no Paraná eles são a maioria) é comum que a atividade rural acabe se tornando o termômetro da atividade econômica. Quanto mais representativa a cultura, maior o impacto que suas oscilações causam no comércio, na indústria, na geração de empregos e na arrecadação. No caso do Paraná, é impossível dissociar a ideia da agricultura com a figura dos grãos dourados da soja. “Quando a soja vai mal, toda cidade vai mal”, sentencia o produtor Alcides Maximiano Carneiro, de Castro, com a autoridade de quem assistiu de perto a ascensão da cultura.
Sua observação vale para a grande maioria dos municípios do Paraná que tem na soja uma importante atividade econômica, que lhe garante o posto de segundo maior produtor nacional da oleaginosa. De acordo com o trabalho: “Panorama de mercado das principais atividades da agropecuária paranaense”, desenvolvido por técnicos do Sistema FAEP/SENAR-PR, a soja responde por 21% do Valor Bruto de Produção (VBP) do Estado, somando em 2015 mais de R$ 14,8 bilhões.
Naquele ano, o valor exportado de produtos do agronegócio correspondeu a 78% do valor total exportado pelo Estado. Apenas o complexo soja respondeu por 41% do total exportado, seguido por carnes, com 23%, e produtos florestais com 13%.
Na atividade rural há mais de 30 anos, Maximiano lembra quando a soja começou a se popularizar nas lavouras do Estado, no início da década de 70. Hoje, ele conta com a ajuda do filho, formado em agronomia, para tocar a propriedade. Questionado sobre o futuro da cultura, ele conta que tem dificuldade em imaginar o município sem a produção da oleaginosa. Outras culturas como o feijão e o milho são bastante significativas na região, mas nenhuma está tão difundida como a soja. “Quase todo mundo aqui planta soja. Hoje eu não plantaria outra coisa, se tivesse que mudar, podia mudar para o feijão, mas o risco é muito maior”, pondera.
Há quatro anos Maximiano deixou de plantar milho no verão por conta do baixo preço e do alto custo do frete e da secagem dos grãos. “Não compensa”, avalia. Na última safra ele destinou 400 hectares para a soja e 50 para o feijão. A escolha baseou-se na liquidez e nos bons preços obtidos pela oleaginosa no mercado. Apesar de recentemente os preços do milho e do feijão terem subido, frente à escassez desses produtos, nesta temporada ele conseguiu vender a saca de soja por um preço que variou entre R$ 80 e R$ 100, considerado um dos maiores patamares dos últimos tempos.
A chave da lucratividade está no câmbio. De acordo com o Panorama da FAEP, a desvalorização do real frente ao dólar tornou a soja brasileira mais competitiva no mercado internacional. Isso já ocorria no ano passado, quando as exportações da mercadoria cresceram 18,9% em relação ao ano anterior, garantindo ao Brasil o título de principal exportador mundial, que até então era ocupado pelos EUA. Nos primeiros meses de 2016 essa tendência se manteve. De janeiro a maio foram exportadas 30,8 milhões de toneladas, 37,3% a mais que no mesmo período de 2015.