O dólar volta a cair nesta quarta-feira (29) frente ao real e bate em seu menor valor em quase um ano, já operando na casa dos R$ 3,25. A moeda norte-americana dá continuidade a um movimento forte de baixa iniciado ontem, quando encerrou o dia com baixa de 2,6%, e hoje, por volta de 11h30 (Brasília), perdia 1,59% para ser cotada a R$ 3,253.
Segundo economistas, o mercado passa pelo chamado "rally do alívio" depois do momento de pânico causado pelo anúncio da saída do Reino Unido da União Europeia, na última semana, e o movimento se estendeu por todas as principais bolsas do globo.
O ambiente, portanto, inspira um pouco mais de apetite ao risco, o que promove, inclusive, a recuperação de algumas commodities que foram severamente pressionadas nos últimos dias. Além disso, a baixa da divisa não se dá só frente ao real, mas uma série de outras moedas. No Brasil, a atual postura do Banco Central também exerce alguma pressão sobre o dólar, principalmente em manter a movimentação do câmbio mais "livre e natural", de acordo com o que explicam analistas de mercado e economistas.
"Hoje em especial o dólar cai forte contra o real, e o primeiro motivo é a sinalização do Ilan Goldfajn ontem de que o BC não está disposto a usar as ferramentas cambiais que a diretoria antiga vinha usando", disse, em entrevista ao G1, Rafael Gonçalves, analista do departamento econômico da Gradual Investimentos. "Além disso, o mercado agora vai tentar descobrir qual o câmbio que o BC vislumbra como ideal. Então tem uma questão de teste para saber se o BC mostra alguma sinalização de que o câmbio está num patamar ajustado”, completa.
Grãos
O impacto de uma baixa como essa sobre a formação dos preços dos produtos agropecuários no Brasil acaba sendo inevitável. Entretanto, a situação interna de alguns deles, com fundamentos bastante fortes, limita esse impacto, como explica o analista de mercado e economista Camilo Motter, da Granoeste Corretora de Cereais.
Para o milho, por exemplo, o momento só dá algum espaço para os compradores fazerem ofertas de preços ligeiramente menores neste momento, o que não significa que os produtores efetivem os negócios. A chegada da oferta da nova safrinha, com o desenvolvimento da colheita, pesa sobre as cotações, mas a oferta ainda é limitada, o consumo é forte e a perspectiva é de que o abastecimento interno só se recomponha com a chegada da próxima segunda safra brasileira.
"Apesar disso, o mercado interno continua praticando preços bem acima da paridade de exportação dada a condição interna, reflexo de uma quebra da safra (em função das adversidades climáticas) e de um volume recorde das exportações brasileiras", explica Motter.
No oeste do Paraná, os preços no mercado de lotes têm oscilado, nos últimos dias, com referências de R$ 37,00 a R$ 38,00 por saca, enquanto a última referência do porto de Paranaguá, entrega setembro/16 é de R$ 34,50. No Rio Grande do Sul e São Paulo, por outro lado, os preços ainda superam os R$ 40,00 por saca. O indicador Cepea mantém os R$ 42,20.
Já na soja, o impacto é um pouco mais forte, uma vez que, embora o mercado interno esteja descolado da Bolsa de Chicago, a disputa pelo pouco produto disponível internamente deve ser mais acirrada a partir dos meses de julho e agosto. "Devemos ter uma antecipação e um alongamento da entressafra este ano", acredita o analista da Granoeste.
Ainda assim, os valores ainda são altos e fortes no Brasil, principalmente no interior do país. "Houve relatos de negócios em Mato Grosso com preços na casa dos R$ 90,00 nos últimos dias", relata Motter, o que mostra que, caso a pressão do dólar possa vir a crescer, ela poderia ser mais severa na hora da formação nos portos.
Entretanto, ao passo em que a moeda norte-americana intensificava sua baixa frente ao real nesta quarta-feira - perto de meio dia já passava de 2% e a divisa valia R$ 3,237 - Chicago amenizava seu movimento de baixa registrado mais cedo e, portanto, a pressão exercida pelo câmbio no Brasil.
Paralelamente, os prêmios fortes nos portos brasileiros ajudavam a compor o cenário de suporte para as cotações - com valores de mais de US$ 1,50 sobre os preços praticados na Bolsa de Chicago, os quais já passavam a atuar em campo positivo, por volta de 12h (Brasília).
Assim, em Paranaguá, s soja disponível chegava aos R$ 95,50 por saca, com alta de 1,06% em relação ao fechamento de ontem, enquanto em Rio Grande a alta era de 2,20% para R$ 93,00. No mercado futuro, altas de 2,30% e 2,89% para R$ 89,00 por saca em ambos os terminais.
No entanto, as exportações brasileiras começam a perder ritmo ao passo em que a demanda começa a procurar uma soja mais barata, principalmente a dos Estados Unidos, como explica Vlamir Brandalizze, diante da pouca oferta no Brasil neste momento. Segundo o consultor da Brandalizze Consulting, "já embarcamos os maiores volumes, e o ritmo vai diminuindo".
E o especialista explica ainda que, daqui em diante, o Banco Central deve ficar atento à essa movimentação mais "livre" do câmbio e tentar manter, ao menos, o nível dos R$ 3,50, referência básica de estímulo ao exportador. "Não se pode perder o exportador. Já perdeu emprego no mercado interno, se começa a perder emprego na exportação - além do agronegócio - a situação se complica", diz.
"O nosso agronegócio, com os atuais patamares em Chicago, acima de R$ 3,40 é viável", conclui Brandalizze. "Esse é o momento, porém, para quem ainda está esperando para fazer suas trocas - onde a relação é muito boa, uma das melhores dos últimos cinco anos - esse é um momento atrativo, bem como para comprar fertilizantes, defensivos", completa.
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