O preço do leite captado em agosto e pago ao produtor em setembro aumentou 9,7% frente ao mês anterior (ou 18 centavos) e chegou a R$ 2,1319/litro na “Média Brasil” líquida, renovando, portanto, o recorde real da série histórica do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada). Assim, o preço médio deste mês está 51,4% superior ao registrado em setembro do ano passado, em termos reais (dados deflacionados pelo IPCA de agosto/20).
De acordo com pesquisas do Cepea, o preço do leite no campo registra alta acumulada de 56,4% desde o início deste ano. Essa expressiva valorização é explicada pela maior concorrência das indústrias de laticínios pela compra de matéria-prima, já que a produção de leite segue limitada. Mesmo com os preços do leite elevados, a produção tem crescido pouco em relação à demanda e o Índice de Captação de Leite do Cepea (ICAP-L) registrou avanço de 3,9% de julho para agosto.
O aumento das cotações ao produtor entre março e agosto é um fator sazonal, já que a captação de leite é prejudicada pela baixa disponibilidade de pastagens, em decorrência da diminuição das chuvas no Sudeste e no Centro-Oeste. Mas, neste ano, a situação foi agravada.
Do lado da produção, deve-se destacar que as condições climáticas estiveram mais severas em 2020, com destaque para a estiagem no Sul do País, que impactou negativamente sobre a atividade leiteira. Também é preciso dizer que o aumento nos custos de produção em relação ao ano anterior tem dificultado os investimentos na produção. Somado a isso, a atípica queda de preços ao produtor em maio (diante das incertezas no mercado início da pandemia) deixou os pecuaristas mais cautelosos – muitos secaram as vacas ou diminuíram os investimentos. Essas ações no passado dificultaram a retomada do crescimento da produção, já que a atividade leiteira é diária e seu planejamento tem efeitos tanto imediatos quanto nos meses posteriores.
Outro motivo é a redução considerável dos estoques de derivados lácteos. Isso está atrelado à recuperação do consumo, ancorado nos programas de auxílio emergencial. Há, também, que se destacar que, no primeiro semestre, o volume de importações de lácteos foi enxuto, devido à desvalorização do Real frente a moedas estrangerias – o que contribuiu para a demanda superar a oferta e para a concorrência acirrada das indústrias de laticínios na compra de matéria-prima.
EXPECTATIVA – De acordo com agentes de mercado, o movimento de alta no campo deve perder força nos próximos meses. Isso porque o final da entressafra se aproxima com o início da primavera e com condições climáticas mais favoráveis para a produção leiteira. Além disso, a indústria tem aumentado as importações de lácteos, visando diminuir a disputa pela compra de matéria-prima. Como consequência dessa expectativa de maior disponibilidade de leite e derivados, pesquisas do Cepea mostram que o preço médio do leite spot em Minas Gerais se elevou apenas 0,2% na primeira quinzena de setembro e recuou 5,5% na segunda quinzena do mês, chegando a R$ 2,61/litro.
O acompanhamento diário das negociações de derivados durante a primeira quinzena de setembro também indicou desaceleração dos preços, devido à pressão dos canais de distribuição e ao endurecimento das negociações. Na parcial de setembro (considerando-se preços até o dia 29), as quedas nos valores médios da muçarela e do leite UHT negociados no estado de São Paulo foram de respectivos 1,5% e de 3,3%. Assim, existe uma tendência de estabilidade-queda para o preço do leite captado em setembro e a ser pago em outubro.
Gráfico 1. Série de preços médios recebidos pelo produtor (líquido), em valores reais (deflacionados pelo IPCA de julho/2020)
Fonte: Cepea-Esalq/USP.
Estado |
Mesorregião |
Preço líquido médio do menor estrato de produção |
Preço líquido médio |
Preço líquido médio do maior estrato de produção |
Variação mensal do preço líquido médio |
|
RS |
Média Rio Grande do Sul |
1,8252 |
1,9996 |
2,1816 |
7,82% |
|
SC |
Média Santa Catarina |
1,9445 |
2,0635 |
2,2165 |
7,93% |
|
PR |
Centro Oriental Paranaense |
1,6923 |
1,9315 |
1,9563 |
4,90% |
|
PR |
Oeste Paranaense |
1,9014 |
2,1174 |
2,2574 |
8,37% |
|
PR |
Média Paraná |
1,8775 |
2,0682 |
2,1515 |
8,72% |
|
SP |
São José do Rio Preto |
1,8969 |
2,0974 |
2,2987 |
10,02% |
|
SP |
Campinas |
1,8272 |
2,0607 |
2,1112 |
9,53% |
|
SP |
Média São Paulo |
1,8762 |
2,0172 |
2,1434 |
9,34% |
|
MG |
Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba |
2,0199 |
2,2522 |
2,3375 |
11,05% |
|
MG |
Sul/Sudoeste de Minas |
1,9572 |
2,1282 |
2,2131 |
10,21% |
|
MG |
Vale do Rio Doce |
1,8754 |
1,9901 |
2,1327 |
10,96% |
|
MG |
Metropolitana de Belo Horizonte |
1,8253 |
2,0936 |
2,2609 |
10,15% |
|
MG |
Zona da Mata |
1,9153 |
2,0623 |
2,2149 |
11,92% |
|
MG |
Média Minas Gerais |
1,9348 |
2,1540 |
2,2732 |
10,50% |
|
GO |
Sul Goiano |
2,0419 |
2,2350 |
2,3383 |
9,99% |
|
GO |
Média Goiás |
2,0960 |
2,2541 |
2,3302 |
9,60% |
|
BA |
Média Bahia |
1,9073 |
1,9924 |
2,0943 |
7,52% |
|
BR |
Média BRASIL |
1,9391 |
2,1319 |
2,2599 |
9,75% |