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Na FAO, ministra defende fim do protecionismo dos países desenvolvidos na agricultura

24/06/2019 11:55

Em discurso na 41ª Conferência da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), em Roma, a ministra Tereza Cristina (Agricultura, Pecuária e Abastecimento) defendeu nesta segunda-feira (23) o fim do protecionismo dos países desenvolvidos e a adoção de princípios científicos na regulação do comércio internacional de alimentos.
Segundo a ministra, essas medidas são mais que necessárias para que nações pobres possam desenvolver seus setores agrícolas e o comércio mundial seja justo e livre para todos.
A ministra destacou que o protecionismo em países desenvolvidos ameaça o aumento da produção de alimentos nas nações em desenvolvimento, que ficam competindo com produtos subsidiados. “Um comércio agrícola de fato livre e justo permitiria, sem dúvida, a disseminação de melhoria das condições no campo, onde está concentrada a maior parte da pobreza no mundo. Desencadearia, ademais, um ciclo virtuoso, em que maior produção descentralizada garantiria maior acesso a alimentação e nutrição adequadas”. Segundo a FAO, 821 milhões de pessoas ainda passam fome no mundo.  
Para Tereza Cristina, a FAO deve assumir o papel de “foro incontornável para o desenvolvimento, para o apoio técnico na produção de alimentos sadios provenientes da agricultura, da pecuária e da pesca e aquicultura sustentáveis”, junto com outros organismos internacionais, como Organização Mundial da Saúde Animal (OIE, sigla em inglês), a Convenção Internacional de Proteção Vegetal (CIPV) e Codex Alimentarius (programa conjunto a FAO e da Organização Mundial de Saúde).
“O sistema baseado em ciência e em regras claras foi nossa resposta coletiva a um passado de risco e incerteza. Agora e no futuro, esse brilhante arcabouço deverá transformar-se na força que garantirá alimentos abundantes e de qualidade, levando o concerto das nações a, pela primeira vez na história, garantir a segurança alimentar de toda a sua população, sem descuidar da preservação de nosso patrimônio ambiental”, afirmou, destacando ser um compromisso brasileiro com outras nações e com as gerações futuras.

Agricultura familiar e inovação
Tereza Cristina ainda destacou o papel dos agricultores familiares na erradicação da fome global até 2030, meta das Nações Unidas.
A ministra citou que, no Brasil, há 5,1 milhões de propriedades  familiares rurais, responsáveis pela renda de 40% da população economicamente ativa e pela maioria dos alimentos consumidos no país.
A ministra alerta que a democratização da produção agrícola passa pela inovação, base, segundo ela, do avanço da agricultura brasileira nas últimas décadas.
Com inovação tecnológica, o Brasil conseguiu quintuplicar a produção de grãos em 40 anos, sem aumentar a área ocupada pelas plantações, de pouco mais de 30% do território. Além disso, produtores rurais brasileiros colhem duas, e até mesmo, três safras em um mesmo ano de determinadas culturas.
 À medida que alguns países desenvolvidos abandonam os princípios baseados em ciência na regulação da produção e do comércio de alimentos, não apenas o comércio justo é penalizado, mas todo o ecossistema de inovação que nos permitiria alimentar mais pessoas com o emprego de menos recursos”.

Novo diretor-geral
A ministra parabenizou Qu Dongyu, vice-ministro da Agricultura e dos Assuntos Agrários da China, eleito neste domingo (23) o novo diretor-geral da FAO pelos próximos quatros anos. O governo brasileiro apoiou oficialmente a eleição de Dongyu.
Em encontro com a ministra, o novo diretor agradeceu o apoio do Brasil à sua candidatura. “Preciso que o apoio continue”, disse. Ele inclusive pediu uma foto com Tereza Cristina e que esse era seu primeiro ato oficial. "Ela merece", brincou o novo diretor.
No discurso, Tereza Cristina também congratulou o brasileiro José Graziano, atual diretor-geral da organização e que encerrará o segundo mandato em julho.
No discurso de despedida, José Graziano defendeu mudanças no processo agrícola, com inovação e sustentabilidade para impedir o desmatamento e o esgotamento dos recursos naturais. Segundo ele, há lugar no mundo para a agricultura familiar. Defendeu que a FAO continue focada na desnutrição das populações mais vulneráveis.