Triticultores temem pelo abandono de uma atividade que luta há anos para se consolidar em Mato Grosso
MARCONDES MACIEL
Cultura ainda incipiente no Estado, o trigo mal começou sua trajetória e já está fadada ao fracasso caso medidas de apoio não sejam adotadas para despertar o interesse dos produtores e atrair indústrias de moagem. Mato Grosso conta com apenas um moinho, porém os triticultores querem que mais indústrias se instalem na região para provocar concorrência no setor e melhorar os preços. O atual preço mínimo de garantia fixado pelo governo federal em R$ 29,43 para a saca de 60 quilos (Kg), não é nada atraente e não chega sequer a cobrir os custos de produção. "Se algo realmente não for feito logo, a cultura corre o risco de desaparecer em nosso Estado", alerta Petrônio Sobrinho, analista da Superintendência Regional da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em Mato Grosso.
Segundo ele, os produtores cobram basicamente três medidas dos governos federal e estadual para que a cultura do trigo seja viabilizada no Estado: incentivos fiscais para a instalação de novas indústrias de moagem de trigo, estímulo tributário (desoneração, principalmente de ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços - para o produtor) e preços mínimos compatíveis. "Sem isso, não vemos horizontes para o trigo no Estado e não podemos esconder essas demandas".
O técnico da Conab frisa que o governo estadual tem feito "praticamente nada" para alavancar a cultura. "Temos de fazer nossa parte e cobrar do governo medidas de apoio à cultura. Não podemos afirmar que tudo está uma maravilha, quando percebemos que o ambiente para investimentos nesta área não agrada a ninguém".
Petrônio Sobrinho mostra números que confirmam sua preocupação em relação ao futuro do trigo no Estado. Em 2007, Mato Grosso chegou a plantar 500 hectares de trigo. Nesta safra foram plantados apenas 300 hectares, redução de 40%. Outro dado preocupante: apenas 10 produtores plantam trigo em escala comercial no Estado. A safra estimada para este ano é de 450 a 500 toneladas, representando não mais que 5% das necessidades do moinho que funciona no Estado, 10 mil toneladas anuais.
De acordo com os produtores, a cultura do trigo, em Mato Grosso, depende de incentivos fiscais, principalmente em relação ao ICMS da energia, uma vez que muitas propriedades trabalham no sistema de irrigação e pagam caro pelo insumo. "O produtor não tem estímulo nenhum para plantar. Ele assume o risco sozinho dessa cultura", critica Petrônio Sobrinho. Com isso, de acordo com ele, o trigo "corre risco de cair no abandono" antes mesmo de se consolidar como cultura de escala comercial no Estado.
Além das três "medidas urgentes" já citadas por ele, o técnico da Conab lembra ainda que faltam descobrir variedades e linhagens adaptadas ao clima e solo do cerrado. "Precisamos resolver o problema da comercialização e o mercado também precisa crescer. Atualmente, temos apenas um comprador no mercado – o moinho Belarina – e isso não é bom para o produtor. O trabalho requer persistência, vai demandar ainda muito tempo, enfim, precisamos trilhar um longo caminho para chegarmos aos nossos objetivos em relação ao trigo".
LONGO PRAZO - Petrônio Sobrinho defende um programa para apoiar a cadeia produtiva do trigo, em Mato Grosso, lembrando que representantes do setor estão preparando um projeto que deverá ser votado na Assembléia Legislativa. "Ações isoladas não surtem efeito. Se não tivermos o compromisso concreto do governo, através de uma política voltada para a triticultura, não conseguiremos decolar e tudo não passará de um sonho".
Diário de Cuiabá