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Pequeno produtor também quer tecnologia

25/07/2011 09:07
CMI Brasil - Presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura de SP, Braz Albertini, diz que visão romântica do agricultor familiar gera atraso Esqueça a imagem do Jeca Tatu, o agricultor de pés descalços criado por Monteiro Lobato e imortalizado nas telas por Mazzaropi. O pequeno produtor de hoje deve buscar novas tecnologias e aumento de produtividade. A afirmação é do líder da agricultura familiar no Estado de São Paulo, Braz Albertini. Como presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura de São Paulo (Fetaesp), Albertini representa cerca de 200 mil famílias que vivem da agricultura no interior paulista. Para ele, a ideia deturpada de que a agricultura familiar deve continuar sendo feita como era há 100 anos prejudica o produtor. "Por que é que o pequeno não pode ter acesso às mesmas tecnologias e estratégias dos grandes? A falta de tecnologia é o que dificulta a população no campo e incha as cidades", afirma. SOU AGRO - O pequeno agricultor vive hoje uma boa situação econômica? Braz Albertini - Iniciativas como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e o Mais Alimentos favorecem o pequeno agricultor, o que ajuda muito. Mas a inexistência de um sistema de extensão rural impede que as muitas pesquisas existentes cheguem para os agricultores sem tecnologia. Hoje não há mais espaço para esse agricultor. "É a desinformação que leva ao plantio de baixa produtividade, sem lucro, antigo. E é aí que precisa entrar o Estado", defende Albertini SOU AGRO - Mas esse agricultor quer usar tecnologias como defensivos agrícolas, fertilizantes e novos tipos de sementes? Braz Albertini - Sem dúvida o produtor quer tecnologia. É a desinformação que leva ao plantio de baixa produtividade, sem lucro, antigo. E é aí que precisa entrar o Estado, fornecendo a extensão rural para que toda a tecnologia chegue ao pequeno agricultor. O produtor não vai contratar um agrônomo por conta própria, por mais barato que seja, principalmente, nos casos de menor escolaridade. SOU AGRO - Por que você acha que é papel do Estado fazer esse trabalho? Braz Albertini - É uma questão social. O pequeno agricultor vai ficando velho e não tem substituto. O filho olha o pai velho, a mãe, a casa, o carro, o trator, o terreiro. Tudo está velho e ele não consegue mudar nada, então é óbvio que vai embora para a cidade. A falta de tecnologia e conhecimento no campo são uma grande causa do inchaço das cidades e um desafio para a fixação da população no campo. SOU AGRO - E quanto à visão de quem enobrece o agricultor familiar justamente por não fazer uso de técnicas agrícolas mais modernas? Braz Albertini - O público urbano não conhece a realidade. Sobreviver sem progresso até é aceito pelas pessoas de idade, mas não pelas gerações mais novas. Seria o melhor para a sociedade toda manter o maior número possível de pessoas no meio rural. Isso é o melhor não só para quem está no campo, mas também para a população urbana. O custo do emprego urbano é muito maior, por exemplo, e quem paga é a economia como um todo. Terras sem tecnologia não geram recursos suficientes para manter toda a família no campo. SOU AGRO - Então sua visão é que tanto o grande quanto o pequeno produtor devem usar as mesmas práticas? Braz Albertini - Por que é que o pequeno não pode ter acesso às mesmas tecnologias e estratégias dos grandes? Isso é traçar que o destino dele vai ser de subsistência, sem ter lucro. A divisão do agro em agronegócio e agricultura familiar como grupos diferentes é descabida, e infelizmente reina em todo o movimento sindical. Eu não comungo com essa ideia. Se quiser se manter, o produtor tem que ser eficiente, senão não vai produzir o suficiente. É por isso que fazemos uma feira gratuita, a Feira da Agricultura Familiar e do Trabalho Rural (AGRIFAM). O objetivo é permitir que o agricultor familiar tenha contato com a tecnologia de universidades, institutos de pesquisa e empresas privadas. SOU AGRO - Além da tecnologia, quais outros caminhos o pequeno produtor deve buscar? Braz Albertini - Além da extensão rural, sempre reforço a questão da organização. Temos vários exemplos de grupos organizados de produtores que alcançaram uma escala maior e melhoraram muito a sua renda. Organizados, eles conseguem vender seus produtos a um preço melhor e comprar seus insumos a um custo mais baixo. O pequeno produtor poderia estar vendendo álcool e não cana-de-açúcar, por exemplo, se conseguisse se juntar para criar pequenas usinas. URL:: http://souagro.com.br Correio do Brasil Autor: Por Luiz Silveira