São Paulo - Após a crise que os arrozeiros do Sul do País passaram com os preços do cereal abaixo do custo, no início do ano, mais uma alternativa surgiu para equilibrar a oferta e a demanda e minimizar os problemas do setor. Trata-se do etanol à base de arroz, que tem um rendimento melhor que o milho, e uma possibilidade de expansão de área superior à cana-de-açúcar. O levantamento foi realizado pela Agência de Desenvolvimento de São Borja (ADSB), no estado do Rio Grande do Sul.
O setor sucroalcooleiro está às voltas com a perda de rendimento de suas lavouras, e a oferta do etanol segue escassa no País, perdendo a competitividade frente a gasolina em grande parte dos estados brasileiros. Os produtores de arroz ainda estão em busca de saídas viáveis para melhorar a sua remuneração, pois a oferta do produto é crescente e o consumo segue em baixa. A ideia de juntar os dois e resolver pelo menos parte do problema surgiu no Rio Grande do Sul e conta com a participação de produtores rurais, entidades, empresas privadas e governo estadual.
A ADSB está encerrando o ciclo de apresentação nos municípios produtores de arroz do projeto "Estudos de Viabilidade à Implantação de Biorefinarias de Etanol de Arroz no RS". Estas apresentações são também para captação de recursos orçados em R$ 300 mil para a execução do projeto, onde produtores, indústrias de beneficiamento, empresas identificadas com o setor e entidades representativas estão apoiando esta iniciativa. "O projeto está orçado para estudar a viabilidade para a implantação de uma biorefinaria para processamento do etanol de arroz. A ideia é trabalhar com dois milhões de toneladas de arroz beneficiado, que fazem parte do excedente de três milhões que temos no Brasil", comentou o presidente da entidade, José Francisco Rangel.
Durante uma reunião, na manhã de ontem, com representantes do setor do Rio Grande do Sul, e com o presidente do Instituto Riograndense de Arroz (Irga), Cláudio Pereira, Rangel afirmou que deve encomendar os estudos junto à empresa paulista Technoplan, especializada na execução de projetos estratégicos na área da agroenergia, até o final da próxima semana. "Os produtores querem se unir para levantar esses aportes, pois não aguentam mais esperar. Tão logo, caso o governo do estado demore ainda mais, daremos andamento a isso", argumentou ele.
Rangel contou que a cada tonelada de arroz é possível obter 430 litros de etanol, já o milho rende, com a mesma quantidade, 400 litros, e a cana-de-açúcar somente 80 litros. Para processar 900 milhões de litros de etanol por ano, o setor sucroalcooleiro precisaria de duas usinas, que custariam aproximadamente US$ 1,5 milhão. Já a rizicultura necessitaria de quatro usinas, a custos de US$ 200 milhões cada uma, ou seja, US$ 800 milhões no total. "Na comparação direta somente o preço do arroz é mais elevado que a tonelada da cana. Mas o setor de arroz ainda possui grande potencial de expansão, o que daria uma alternativa melhor para o setor", frisou o executivo.
Para o presidente do Irga, a ideia é boa, mas não é única. Existem outros projetos no estado para resolver os problemas de excedente de arroz, que não gerariam custos tão altos. Pereira, no entanto, vê o projeto com bons olhos, mesmo porque o estado sulista importa mais de 90% do etanol usado anualmente. "Essa é uma questão nova e complexa. Requer estudos mais aprofundados sobre a viabilidade econômica. O Japão já tem esse processo, mas ela é adequada à realidade deles, e não sabemos se encaixa com a nossa realidade. O Irga está disposto a buscar investimentos para realizar esses estudos e ajudar no que for preciso. Iremos conversar agora com a Secretária de Ciência e Tecnologia do estado para ver qual o caminho a ser tomado", disse ao DCI.
Para Pereira se o estado e a entidade resolverem entrar com a maioria dos investimentos para o estudo, o mesmo deverá ser disponibilizado publicamente. "Esses R$ 300 mil para o estudo de viabilidade econômica é muito caro. E eles querem que o estado entre com a grande maioria dos recursos, mas para isso o estudo tem que ser público, e ainda vamos conversar sobre isso".
Quanto à polêmica do uso do cereal como combustível, versus a alimentação humana ou animal, ambos os representantes afirmaram que o projeto prevê utilizar somente os excedentes. E conforme o crescimento da demanda, amplia-se a produção. "O consumo de arroz tem caído bastante no País. Na década de 80 o consumo era de 40 quilos por pessoa/ano, e hoje estamos consumindo menos de 15 quilos por ano. Todos ganham com isso, o produtor poderá ampliar a sua produção e garantir um bom preço. O consumidor terá a opção de combustível mais barato, e continuará a comer o arroz. E a industria de biocombustíveis ganhará mais uma opção", finalizou Cláudio Pereira, que irá se reunir com o governo do estado esta semana.
DCI - Diário do Comércio & Indústria
Autor: Daniel Popov