Obter competitividade, seja em relação a outras culturas seja frente ao grão importado, é um desafio que ainda está longe de ser superado pelo trigo brasileiro. Nesses termos, a cultura vai se limitando às áreas onde não há alternativa para a safra de inverno. Neste ano, a Conab estima a produção nacional em 5,13 milhões de toneladas, quase 13% menor que a colhida no ano passado.
Essa redução da oferta, porém, não tem sido suficiente para dar sustentação os preços. Cálculos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, sinalizam que a receita da safra que está sendo colhida deve ficar bem abaixo do necessário para cobrir ao menos os gastos com insumos – superar o custo total, está fora de questão – no Rio Grande do Sul e no Paraná – tomando-se como base dados primários do Cepea coletados nas regiões noroeste do Rio Grande do Sul e oeste e norte do Paraná.
Para que o produtor consiga receita que se iguale aos custos operacionais, a produtividade deve ser de, no mínimo, 50 sacas por hectare. Nas regiões paranaenses, no entanto, a produtividade desta safra – já está na reta final – está bem inferior a esse nível, com média ao redor de 35 sacas, segundo dados do Deral/Seab. No Rio Grande do Sul, a colheita ainda está no começo, mas também não há expectativas de que sejam atingidas 50 sacas por hectares. Essa produtividade praticamente nunca foi alcançada na média do estado, apesar de haver notícias de que algumas fazendas a tenham obtido.
As cotações nominais de balcão (ao produtor) no Paraná estão no menor patamar deste ano, conforme levantamentos do Cepea. No oeste do estado, os preços do trigo pão ou melhorador ao produtor chegaram a R$ 22,90/sc de 60 kg, valor 14,6% abaixo do máximo deste ano, que foi de R$ 26,80/sc em maio. No sudoeste paranaense, a saca está em R$ 24,10/sc, sendo 8,6% menor do que a máxima de 2011, de R$ 26,36/sc, em abril. Já no norte do Paraná não há sequer indicação de preços há 17 dias.
No Rio Grande do Sul, segundo maior produtor nacional, a liquidez é ainda menor, e desde fevereiro a saca do trigo tipo brando (o tipo pão ou melhorador tem melhor qualidade e maior demanda) está na casa dos R$ 24,00 ao produtor.
Conforme pesquisadores do Cepea, há anos se observa que, a partir de setembro – em alguns anos, mesmo em agosto –, compradores reduzem o interesse pelo trigo nacional, dificultando até mesmo que se obtenham parâmetros de preços – por isso, as cotações nominais.
Entre os motivos dessa falta de interesse estão as importações crescentes de trigo em grão e de farinhas. Nem mesmo a melhora nas tecnologias utilizadas pelo produtor brasileiro, como sementes que resultam em trigo de melhor qualidade, é suficiente para atrair compradores. Por outro lado, leilões do governo para ajudar no escoamento da produção nacional acabam recebendo uma boa adesão de compradores.
No mercado de derivados, a liquidez está melhor, segundo levantamentos do Cepea. O principal motivo para o aumento da demanda foi a alta do dólar, que encarece o produto importado, mas as negociações em pequenas quantidades ainda prevalecem. Com isso, os preços das diversas farinhas cotadas pelo Cepea seguem relativamente estáveis, com ligeiros recuos nos últimos dias.
Na Argentina, a colheita do trigo está começando. Segundo dados da Bolsa de Cereales, o rendimento das primeiras áreas colhidas é baixo devido às geadas e à falta de umidade durante o desenvolvimento da planta, mas a expectativa é de que os próximos lotes tenham bom rendimento. Por enquanto, a safra daquele país, que é o principal fornecedor do Brasil, é estimada em 12,6 milhões de toneladas.
As informações são do CEPEA.
Agrolink com informações de assessoria