Diretor técnico da Informa Economics FNP diz que o setor precisará vencer dois grandes desafios para o futuro
por Viviane Taguchi
Custo de produção e escassez de mão-de-obra são desafios maiores que produzir uma safra maiorA escassez de mão de obra especializada no campo deve ser a responsável por elevar os custos de produção agrícola no Brasil nos próximos anos. A afirmação é do diretor técnico da Informa Economics FNP, de São Paulo, José Vicente Ferraz. Ele diz que o alto preço dos insumos também continuarão pesando sobre o setor por pelo menos dois anos. "Teremos grandes desafios pela frente: lidar com a falta de mão-de-obra especializada no campo e os altos custos de produção", afirma.
Segundo Ferraz, existe uma série de fatores que estão, a cada safra, elevando o custo de produção. São eles o crescente uso de tecnologia - o que inclui insumos e máquinas - e a mecanização, além da escassez de mão-de-obra. Ele diz que na safra 2011/2012, este custo sofreu uma elevação de 10% em relação à safra anterior e que, na safra futura (2012/2013), há uma expectativa de uma alta maior.
A demanda por alimentos estimulou a produção nacional de grãos, que atingiu 147 milhões de toneladas nesta safra, mas também onerou o custo. "Os elevados preços das commodities no cenário mundial, pelo menos até o agravamento da crise da zona do euro, estimularam o aumento da área plantada para várias culturas (no Brasil). No entanto, verificamos que o custo de produção em geral estão mais altos", afirmou Ferraz, que é engenheiro agrônomo. "Em 2011, tivemos uma venda maior de fertilizantes e os preços destes produtos subiram cerca de 30% entre 2010 e este ano, a mão-de-obra também encareceu significativamente o setor", diz.
Além da elevação de preços dos insumos agrícolas, a mecanização e a tecnologia necessária para elevar a produtividade no campo onerou o setor. Segundo Jacqueline Bierhalls, a necessidade de produzir mais, e em duas safras, exigiu mais tecnificação. "Então, foi necessário que o produtor comprasse mais insumos, mais máquinas e equipamentos avançados", explica.
A mão de obra ajudará a encarecer mais o setor nos próximos anos, acreditam os consultores. Isso porque a mecanização, necessária por conta da preservação ambiental e aumento de produtividade, alidada à elevação de renda do brasileiro, não está promovendo o desemprego, mas um êxodo rural. "No setor de cana, por exemplo, achávamos que a mecanização ia gerar um índice de desemprego elevado, mas não foi isso que aconteceu", diz Maurício Mendes, presidente da consultoria. "Também achamos que esta mão-de-obra iria migrar para o setor da citricultura e novamente, nos enganamos. Este pessoal foi absorvido por setores urbanos, como a construção civil", afirma.
Mendes enxerga que no futuro, a escassez de mão-de-obra no campo já aumentar ainda mais. "Nos baseamos na relação do trabalhador e o salário mínimo para avaliar o nível de emprego no campo aqui no Brasil. Com um possível salário mínimo que chegue a R$ 622 ou R$ 625 em 2012, novamente teremos mais gente deixando o campo. Ninguém quer ficar no campo quando tem aumento de renda".
Equilíbrio
Os especialistas da FNP acreditam que, nos próximos anos, haverá um incremento na produção da agricultura brasileira, mas não haverá "uma revolução". Ferraz diz que não será possível produzir uma safra gigantesca enquanto o setor não buscar uma solução para minimizar os custos. "Vamos focar na produtividade, o que também encarece. No entanto, já que o desafio é produzir mais com o menor custo, a solução é maximizar a renda por unidade de área produzida, de modo que os custos fixos sejam diluídos", diz.
Um fator que poderia auxiliar o produtor rural na hora de diluir os custos é a comercialização. "O produtor rural brasileiro é um herói quando se fala em produção, mas ele não sabia comercializar. Graças a Deus, isto está mudando no setor e ele está aprendendo a vender a safra, antecipando a comercialização de commodities na bolsa", diz Maurício.
Segundo ele, esta é a maior expectativa para a safra 2012/2013. "Parte do bom resultado esperado para a safra futura de grãos se deve ao alto volume de vendas antecipadas", afirma. A Informa Economics FNP acredita que 36,5% da soja da safra do ano que vem já tenha sido vendida até meados de novembro, antes da redução geral de preços no mercado internacional.