A quebra da produção da soja e do milho no Sul deve contribuir para pressionar menos o valor das tarifas
por Agência Estado
As tarifas de frete já reagem à entrada da safra de grãos no Sul e no Centro-Oeste, mas é improvável que alcancem os picos registrados no ano passado, na mesma época, quando a concentração da colheita das duas regiões - que em geral ocorre em momentos distintos - fez disparar o custo do transporte agrícola até os portos.
O valor do frete sempre sobe entre fevereiro e maio, meses de escoamento da produção. Mas, neste ano, com a colheita se intensificando primeiro em Mato Grosso e depois no Paraná, a valorização deve ser menos intensa que em 2011, afirma Aedson Pereira, analista de grãos da Informa Economics FNP.
A quebra da produção da soja e do milho no Sul também deve contribuir para pressionar menos o valor das tarifas. "Neste ano temos um cenário bem distinto do que ocorreu na safra passada. Além da colheita na época normal, há menos soja para transportar no Sul, o que deve limitar o aumento do valor do frete", disse o analista.
De acordo com dados da Informa, em fevereiro de 2011 o custo para transportar uma tonelada de soja de Rondonópolis (MT) para Paranaguá (PR) ou Santos (SP) estava entre R$ 160 e R$ 170. Neste mês, o mesmo trecho é cotado por R$ 130 a R$ 140 por tonelada. De Cascavel para Paranaguá, chegou-se a R$ 70 a R$ 80 por tonelada no ano passado. Nesta semana, oscila em torno de R$ 60. "É normal que os preços aumentem nesta época, mas não espero nada na magnitude do ano passado", afirmou Pereira. Ele lembra que Mato Grosso está com cerca de 30% da safra colhida, mas ainda assim o frete segue mais baixo que na mesma época do ano passado. "No Paraná, a colheita está concentrada no oeste e agora está se intensificando no norte", afirmou.
Escoamento
Há urgência para que a soja seja escoada neste momento. Segundo Pereira, o line-up de Paranaguá mostra que há navios programados para receber 900 mil toneladas de grão até o final de fevereiro. Em Santos, o volume chega a 850 mil t no mesmo período. "É um grande volume, mas não é tão alto quanto na mesma época do ano passado."
João Birkhan, diretor do Centro de Comercialização de Grãos (Centrogrãos), da Federação de Agricultura de Mato Grosso (Famato), diz que há pressão para que a soja seja escoada neste momento no Estado. "Choveu muito em janeiro e depois do estio das últimas semanas os produtores aceleraram a colheita. Há navios esperando no porto. Mas o valor do frete não tem apresentado muita diferença com o do ano passado", conta. Ele ponderou, contudo, que nos próximos 60 dias a corrida por caminhões deve aumentar.
De acordo com Geraldo Fernandes Júnior, diretor do sindicato dos transportadores de carga do Paraná (Cetcepar), as grandes transportadoras do Estado não reajustaram tarifas neste ano em relação à mesma época do ano passado. "Os preços aumentaram entre 20% e 30% com relação aos praticados em dezembro, mas são porcentuais normais, que estão dentro da sazonalidade do escoamento da safra. Não houve ajustes adicionais", disse.
Júlio César Alves, gerente de logística da Cocamar, cooperativa da região de Maringá (PR), afirmou que os valores do frete não aceleraram. "O frete está até mais atrativo que o normal neste momento", afirmou. A cooperativa tem uma transportadora, a Transcocamar, com cem caminhões e contrata entre 600 e 700 veículos adicionais para o escoamento da safra. "Nas cotações que temos realizado não vimos diferenças de preços significativas", afirmou.
Dados levantados nesta semana pelo Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial (Esalq-Log) mostraram que a maioria das rotas do interior do Paraná e de Mato Grosso para os portos de Paranaguá e Santos têm fretes menores neste fevereiro, em relação ao mesmo período do ano passado. "Algumas rotas pontuais tiveram aumentos pontuais, de no máximo 5%", afirmou Priscila Biancarelli, coordenadora da Esalq-Log. "O mercado não explodiu", comentou. Ela acredita que os picos dos preços possam ocorrer em março.
Trigo
Enquanto o custo para o escoamento da soja tem se mantido sob controle, o valor para transportar trigo disparou. Na última semana, indústria de São Paulo cotou frete de R$ 90 por tonelada para buscar trigo da região de Maringá (PR). Cerca de 15 dias antes, a mesma operação gerava despesa de R$ 60/65 a tonelada, segundo Washington Terra, da WA Corretora.
Segundo ele, o reajuste leva em conta a entrada da safra verão e também a perspectiva de que neste ano devem se repetir os problemas de falta de estrutura nos portos. Maior tempo para descarregar começa a ser embutido no valor do frete. Terra lembra que a interrupção, em dezembro, dos leilões do governo para o escoamento do cereal fez com que se concentrasse o transporte do cereal, que compete pelo transporte com as cargas de milho e de soja no Sul do país.
O diretor-presidente do Moinho Pacífico, Lawrence Pih, atribui os reajustes no frete do trigo do Paraná para São Paulo a uma questão regional. "O frete para o trigo sempre explode nesta época por conta da safra de soja", diz o executivo sobre o fato de que o Estado é produtor das duas culturas e nesta época a soja tem primazia no transporte.