As mudanças de comportamento em relação ao consumo de cigarros, que antes afetavam o varejo e a indústria, preocupam produtores de tabaco no sul do País. O governo do Rio Grande do Sul, onde mais se produz fumo, articula ações junto a agricultores para que diversifiquem sua produção. Atividade tipicamente familiar - as lavouras têm, em média, 16 hectares -, a fumicultura tende a perder área plantada na região, em decorrência das campanhas antitabagistas.
Na safra deste ano, já encerrada em alguns municípios e em fase de plantio em outros, o volume colhido deve ser menor do que o da temporada passada, quando houve recorde. O clima seco baliza as projeções para 712 mil toneladas de tabaco, ante 832 mil no último ano, segundo a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra). A área plantada com a cultura fica estável: cerca de 340 mil hectares nos 3 estados do sul, representados pela entidade.
Prevendo queda de demanda, a Secretaria de Agricultura, Pecuária e Agronegócios do Rio Grande do Sul estabelece diálogo com os fumicultores e desenvolve programas de incentivo a outras culturas. "Dizemos a eles que o mundo não se encerra no fumo", disse um porta-voz do órgão. As alternativas mais viáveis são a pecuária leiteira e de corte, e a fruticultura.
Exportações
As campanhas antitabagistas são muito fortes e o Brasil tem imposto uma série de restrições ao fumo. "É preocupante", afirmou o tesoureiro da Afubra, Marcílio Drescher - que não fuma, mas já plantou, durante longa data, a matéria-prima do cigarro. "Mas no mercado exterior há estabilidade e até expansão do consumo de tabaco - não veem o ato de fumar como um malefício tão grande", ponderou.
O Brasil exporta aproximadamente 85% de sua produção de fumo, movimentando valores na monta de R$ 3,5 bilhões. Os países asiáticos destacam-se como consumidores ascendentes do tabaco brasileiro. Principalmente a China, que importou um volume equivalente a US$ 380 milhões do produto do País em 2011, de acordo com informações do Ministério do Desenvolvimento e Comércio Exterior (MDIC).
Mais de cem nações do mundo importam tabaco do Brasil. "A diversidade de países segura o negócio", analisou Drescher.
Impostos e preços
Além das previsões pessimistas quanto à demanda, no mercado interno, outro problema sofrido pelo setor (no nível industrial, que posteriormente afeta a base produtiva) é a alta incidência de impostos. Sem tributos, o cigarro custaria 30% a menos, em média, no varejo; 30%, também, é a porcentagem que os cigarros ilegais representam sobre o consumo total, segundo o tesoureiro da Afubra. "O preço provoca isso", ele afirmou.
Enquanto o governo atua fortemente na formação de preços de um maço de cigarros, as cotações do fumo em estado puro são decididas nas negociações entre sindicatos rurais e fabricantes. O tabaco está remunerando bem: 27% acima dos custos, de acordo com a Afubra. A média de gastos produtivos é de R$ 12 mil por hectare; a indústria paga R$ 8,25 por quilo do produto.
"Com dois ou três hectares de tabaco, a propriedade é autossustentável, por conta da rentabilidade", disse Drescher, explicando o porquê de as lavouras serem pequenas (16 hectares é a média em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná, segundo a associação).
DCI - Diário do Comércio & Indústria
Autor: Bruno Cirillo