O clima elevou os preços no campo, mas as altas têm limite: se o produto subir demais, a demanda cai
Ganhos para o produtor, preços mais altos para o consumidor. Esse é o efeito causado pela alta nas cotações do feijão. No campo, o gráfico segue a trajetória ascendente desde agosto do ano passado, fato que agora começa a gerar maior influência no varejo. A redução na área plantada e os problemas climáticos comprometeram o desempenho da primeira safra do grão – que costuma ser a mais relevante em termos de oferta. Com pouco produto disponível, logo veio a consequência.
O salto nos preços pode ser notado na comparação com os níveis de janeiro do ano passado. Na época, o agricultor negociava a saca de 60 quilos do feijão de cor, em média, a R$ 139, enquanto a do preto saía por R$ 86, apontam dados da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab). Hoje a saca do carioca é negociada a R$ 200, e a do preto a R$130.
Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, de Curitiba, atribui a elevação dos preços à redução do plantio na safra das águas, que está sendo colhida agora, e também aos problemas climáticos. "Houve uma fuga dos produtores para a soja. Além disso, uma geada atingiu a região Sul e reduziu o potencial das áreas", explica. Ele acrescenta que na região central do país, também produtora do alimento, o problema foi a estiagem em novembro e dezembro, o que colaborou para a redução na oferta.
Nas prateleiras é possível encontrar o feijão carioca sendo vendido a mais de R$ 5 por quilo, conforme indica o Disque Economia, serviço da Prefeitura de Curitiba que faz o levantamento diário dos preços. Em dezembro, na média mensal da Seab, o custo para o consumidor era de R$ 4,39. Brandalizze avalia que o preço não deve subir mais, pois há risco da demanda cair. "O consumo ainda limita a alta dos preços."
No custo da cesta básica, contudo, o impacto da alta dos preços do alimento ainda não é tão grande, afirma Sandro Silva, economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos no Paraná (Dieese). "O feijão seguiu a tendência de alta dos outros produtos da cesta, mas ainda tem um peso pequeno considerando o valor total", explica. Ele lembra que o produto teve uma alta expressiva em 2008, quanto o preço médio do feijão preto em Curitiba foi de R$ 4,27.
A alta nos preços de venda do feijão está estimulando os produtores a ampliar as áreas destinadas ao cultivo da segunda safra. Na estimativa da Seab, o Paraná deve plantar 229 mil hectares da leguminosa neste ciclo (2% a mais em relação a 2012), com previsão de início colheita para o final de março.
O agricultor Nitio Feversani representa bem essa situação. Ele deve semear cerca de 330 hectares na sua área eno município de Bom Sucesso do Sul (Sudoeste), um acréscimo de 80 hectares em relação ao último ano. "O pessoal perdeu o medo de plantar, e o preço ajuda. Aqui na região a maioria está aumentando a área", relata. Apesar do crescimento, o feijão preto não está na preferência dos agricultores. Na área de Feversani, cerca de 20% será dedicada a variedade rajada, e o restante para o tipo carioca.
Gazeta do Povo
Autor: Igor Castanho