Os produtores da região do Vale do Araguaia passam a dispor de uma alternativa de renda com a introdução da soja. A região ao longo dos anos foi ocupada pela pecuária extensiva. Com a degradação do solo, a estabilidade nos preços da arroba do boi, elevação dos custos da atividade pecuária e a retração no mercado da carne bovina, os criadores sentiram o golpe. Ao tomar conhecimento da gravidade do problema econômico regional, a Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater) partiu para a sua solução. Um trabalho conjunto com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Centro Tecnológico de Pesquisa Agropecuária (CTPA) contribuiu para resolver a questão. Essas instituições de pesquisa concluíram por definir variedades de soja adaptadas às condições da região do Vale do Araguaia.
Em Nova Crixás, Marcelo Pereira Ribeiro, da Fazenda Tamburi, aceitou introduzir a soja em mais de mil hectares de terra de sua propriedade. Emater, Embrapa e CTPA implantaram os cultivos de sementes específicas de soja e fizeram acompanhamento de cada fase. A demonstração do resultado ocorreu ontem, durante Dia de Campo, quando os técnicos da Emater puderam exibir aos cerca de 200 agropecuaristas da região a condição de cada cultivar. Job Carneiro Wanderlei, técnico da Emater em Porangatu, relacionou as cultivares envolvidas, entre as quais as linhas de BRSGO: 7960, 8360, 7460, 8160, 8460, 8560, Emgopa 313 e Luziânia. Algumas são convencionais e outras transgênicas. Os técnicos deixaram bem claro aos participantes em sua explanação nas três estações distribuídas na fazenda dos produtores a importância de cada variedade em relação ao solo, combate às doenças, aos índices de produtividade e aos objetivos econômicos, entre outros.
José Nunes Júnior, fitopatologista e gerente de Pesquisa e Precisão do CTPA, disse acreditar que a "soja vem com força total para Goiás", especificando o Vale do Araguaia. Para esse "boom" da soja, justificou a melhoria do solo degradado e posterior volta do gado. Nunes ressaltou ainda os 37 anos de parceria com a Embrapa e a Emater para implantação da soja no Cerrado. Em sua opinião, os nove cultivares de soja anunciados pelos parceiros "são todos top de linha".
A fase de transição entre a pecuária e a agricultura é apontada como "interessante" pelo produtor Marcelo Pereira Ribeiro, um dos pioneiros na implantação da soja na região do Vale do Araguaia. Ribeiro investe pesado em genética, mecanização e mão de obra nesse processo de mudança radical. Em seu conceito, "o melhor lugar da soja é onde ela se adapta bem". Se a tecnologia encontrou variedades ajustadas para aquele tipo de solo pobre em nutrientes, clima, entre outros aspectos, "daqui por diante vamos comemorar os resultados positivos", diz ,enaltecendo o trabalho conjunto posto em prática pela Emater, Embrapa e CTPA.
O presidente do Sindicato Rural de Nova Crixás, Sílvio Luís Busnardo, é pecuarista há 30 anos na região. A introdução dos sojais no município é "bem vinda" por ele, ao observar que a "pecuária passa por dificuldades". Em sua avaliação econômica, atualmente um boi ocupa o correspondente a um hectare. Antes, dois bois ocupavam o mesmo espaço. Sílvio atribui esse problema à degradação do solo, que reflete na baixa dos preços da terra. "O custo da pecuária ficou alto e o boi perdeu o poder de barganha", observa. Há cerca de dez anos, compara, se pagava um salário mínimo com três arrobas de carne bovina, hoje são necessárias sete arrobas. Acompanhando essa onda altista, subiu também o preço do arame, do óleo diesel enquanto o preço da arroba do boi gordo mantém-se estável, prejudicando o pecuarista.
Nova cadeia produtiva
A alternativa de renda para o produtor com o advento da soja é ressaltada pela prefeita Gleiva Ana Gomes, que sinaliza para a geração de novos empregos através do fortalecimento da nova cadeia produtiva. Gleiva vislumbra, também, os cursos que poderão ser proporcionados para melhoria da mão de obra local, através do Senar, Sebrae, entre outras instituições. A população de Nova Crixás é estimada em 12 mil pessoas. O município é o quinto em extensão territorial no Estado, compreendendo uma área de 7.299 quilômetros quadrados. "A equipe da Emater está de parabéns", saudou a prefeita pelo trabalho de introdução da soja na região.
Ao acompanhar os produtores no Dia de Campo de Nova Crixás, ao lado dos demais diretores da instituição, Luiz Humberto de Oliveira Guimarães, presidente da Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater), saudou o pioneirismo de produtores como Marcelo Ribeiro na atualidade e ao processo de desenvolvimento moderno posto em andamento na região. Beto Guimarães lembrou, ainda, dos pioneiros na década de 60, citando nominalmente Silvio Vasconcelos, que se fez presente.
Em sua opinião, a Emgopa (Empresa Goiana de Pesquisa Agropecuária) "foi a grande responsável pelo desenvolvimento agropecuário do Cerrado, através de seus pesquisadores". Ao homenagear os pesquisadores e extensionistas presentes, Beto Guimarães concluiu taxativo: "Sem vocês não iríamos a lugar algum", numa referência ao nível tecnológico a que chegou Goiás nos campos da agricultura e da pecuária.
Compareceram ao Dia de Campo de Nova Crixás, além do presidente da Emater, Luiz Humberto de Oliveira Guimarães, os diretores Waldemar Pinto Cerqueira, de Pesquisa; Enéas Vieira, de Gestão, Planejamento e Finanças; Nivaldo Alves da Costa, de Assistência Técnica. O ato foi prestigiado, ainda, pelo proprietário da Fazenda Tarumã, Marcelo Pereira Ribeiro; prefeita Gleiva Gomes; Silvio Busnardo, presidente do Sindicato Rural de Nova Crixás; Florêncio Wanderley, presidente da Cooperformoso; Olegário de Jesus Silva, secretário de Agricultura, de Formoso do Araguaia; José William Silveira, de Formoso do Araguaia; Jorge de Oliveira, secretário municipal de Nova Crixás; Laudemiro Rufino dos Santos, vice-prefeito de Nova Crixás; Edgar de Lima, secretário de Agricultura de São Miguel do Araguaia; Colemar Pinto de Faria, gerente regional da Emater em Mundo Novo; Jorge Luiz Fernandes, secretário municipal de Mundo Novo; Volnei Gontijo de Souza, vice-prefeito de Mundo Novo; José Gomes Gontijo, ex-prefeito de Nova Crixás, além de dezenas de agropecuaristas.
Goiás Agora