A configuração atual do mercado não traz nenhum ineditismo: preços em baixa e custos em alta. O enredo parecido com 04/05
Com a safra de soja praticamente encerrada e com o milho segunda safra em pleno desenvolvimento em lavouras ainda beneficiadas com o bom regime de chuvas, o produtor mato-grossense vai voltando a sua atenção para o ciclo 2013/14 - cuja abertura se dá em meados de setembro com a retomada dos trabalhos com a soja - e o que ele vê não é nada atrativo, ao contrário do ano passado quando as exportações, e consequente, a demanda pela soja começava aquecida ainda em fevereiro, neste ano até o momento o cenário desenhado revela indicações de alto custo de produção e baixa para composição dos preços futuros, que são exatamente as vendas antecipadas que garante a cobertura das despesas com o plantio, ou seja, renda mínima.
Esse enredo - bem parecido com o que foi vivido na safra 04/05 e desencadeou uma crise que se arrastou por menos quatro safras seguidas – exige cautela e muita informação por parte do produtor, como destaca o gestor do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), Daniel Latorraca. "Atenção constante ao mercado fará toda a diferença", exclamou na manhã de ontem (10) durante a coletiva de imprensa que lançou a 8ª edição do Circuito Aprosoja, considerado o mais tradicional evento de planejamento de safra do país que será aberto hoje (11), às 19h, no Cenarium Rural, em Cuiabá.
Como o evento é de planejamento de safra, Latorraca apontou que o produtor rural deve dar especial atenção ao mercado. Segundo ele, já se observa o início das trocas – comprometimento de parcelas da soja a ser plantada para aquisição de insumos – para a safra 2013/14, "e isso dentro de um cenário complicado: preço em queda no mercado internacional, frete em alta e custo de produção em alta. Contexto extremamente prejudicial ao produtor rural. O acompanhamento do mercado agora é essencial porque qualquer momento de modificação de cenário é uma oportunidade para a venda antecipada e garantia da cobertura dos custos", explicou o gestor do Imea.
Nos próximos meses, por exemplo, a sojicultura vai ser regida pelo tradicional mercado de clima, que no jargão do segmento quer dizer que os olhos se voltam para a safra norte-americana que começa a preparar seu novo ciclo. Tudo que acontecer de agora em diante, por força do clima principalmente, vai pressionar para cima ou para baixo a cotação internacional do grão e isso atinge diretamente a formação do preço futuro para o mato-grossense.
A CONTA - Em um intervalo de quatro safras, o custo de produção ficou 48,70% mais caro, enquanto a área plantada aumentou em 23% - contabilizando até a atual safra, pois os números para 13/14 ainda não são conhecidos – e o dólar, dentro dos períodos apurados pelo Imea, revela incremento de 14,53%.
Em março, o Imea divulgou o custo direto de produção para 13/14, em Mato Grosso, vai ultrapassar a casa dos R$ 2,2 mil por hectare, tanto para variedade convencional como transgênica. A estimativa, a quinta já feita sobre o próximo ciclo, representa majoração de 20% sobre a atual safra, tida até então, como a mais cara da história local.
Segundo o gestor do Imea, a safra de soja 2012/13, estimada em 23,5 milhões de toneladas, foi positiva, apesar de alguma instabilidade. "Na colheita verificamos muitos problemas e a safra foi irregular. Em algumas regiões os produtores obtiveram produtividade menor que no ano anterior e outros não conseguiram rentabilidade", explicou. Os problemas na soja atrasaram o plantio do milho, mas até o momento, não se observam perdas.
Diário de Cuiabá
Autor: Marianna Peres