Se elas trouxeram problemas na sojicultura, no cereal resposta é produtividade 10% maior
A segunda safra mato-grossense de milho pode ficar 10% acima do previsto inicialmente pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). Na segunda-feira (22), o Instituto revisou as projeções para a cultura que segue em pleno desenvolvimento nas lavouras. Devido ao bom regime de chuvas, descrito como de "precipitações generosas", a produção foi recalculada e deve passar de 13,29 milhões de toneladas para 14,64 milhões.
A revisão foi possível, porque graças ao clima, a estimativa de produtividade foi alterada de 80 sacas por hectare (sc/ha) para 88 sacas. Os dados foram apresentados ontem durante o lançamento da Expedição Milho Brasil, na sede da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato). O projeto vai visitar lavouras de milho de cinco estados brasileiros, incluindo Mato Grosso, para discutir as variáveis da cadeia produtiva do grão que vão impactar de forma decisiva no mercado interno e na exportação.
Como frisam os analistas do Imea, essas novas expectativas reafirmam a safra 2012/13 do cereal como a segunda maior de Mato Grosso. O recorde do Estado ocorreu no ano passado, quando foram colhidas em média 104 sc/ha e a produção foi de 15,5 milhões de toneladas. "Esse aumento foi possível devido ao fato de que muitos produtores conseguiram plantar toda ou grande parte de sua produção dentro da janela de plantio, permitindo que a cultura fosse abastecida com a quantidade necessária de água para seu desenvolvimento".
Mesmo sob um clima de otimismo, bem diferente do que se via em meados de fevereiro quando o atraso na colheita de soja preocupava os produtores, existem ressalvas, pois há quantidade considerável da produção esperando por chuvas para garantir safra cheia e assim como aconteceu no ano passado com a soja e com o próprio milho, neste ano-safra, não se veem perspectivas de preços remuneradores como os registrados anteriormente. "A tendência a partir de agora é de que as chuvas comecem a ficar mais escassas ao longo dos próximos meses. Embora as perspectivas tragam números positivos reafirmando o indicativo de oferta alta, estes reforçam ainda mais a previsão de queda acentuada nos preços para junho/julho".
NO MACRO - No ano em que a produção brasileira de milho deve bater recorde, devendo ser colhidas 73,6 milhões t, sendo mais da metade deste total somente na segunda safra (37,3 milhões t), as atenções se voltam para o mercado internacional e para a safra dos Estados Unidos. Segundo as primeiras estimativas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, sigla em inglês), os norte-americanos devem colher 360 milhões t de milho.
Nesse contexto, um dos grandes desafios do Brasil é manter o desempenho positivo nas exportações do grão. Em 2012, o país exportou cerca de 20 milhões t do cereal, mais do que o dobro do volume embarcado em 2011. O status de segundo maior exportador de milho do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, foi conquistado devido aos problemas climáticos enfrentados pelos norte-americanos na temporada passada.
A safra recorde do ano passado ainda repercute de forma positiva para Mato Grosso. O patinho feio do agronegócio estadual, o milho – que até tempos atrás era inviável como commodity em Mato Grosso pelo alto custo do frete até os portos - virou de uma safra para a outra o cisne das exportações e pela primeira vez desbancou a soja e passou a ser, neste trimestre, o carro-chefe da pauta estadual. Dos mais de US$ 3,46 bilhões (FOB) em receita acumulada nos últimos três meses, US$ 1,22 bilhão (FOB), ou 65%, vieram dos embarques do cereal. Nunca se exportou tanto milho - e em plena entressafra do grão - no Estado.
De acordo com o superintendente do Imea, Otávio Celidonio, a expectativa é de que daqui a 10 anos o milho seja produzido em maior escala do que a soja no Brasil. Mas isso ainda depende das discussões em torno desta cultura. O Brasil, segundo o dirigente do Imea, tem um enorme potencial a ser explorado. "Existe uma vasta área aonde o milho pode ser cultivado e tecnologias que elevam ainda mais esse potencial. Por esses motivos temos de debater como desenvolver o mercado interno e externo para toda essa produção que está sendo esperada nos próximos anos. Vamos ao campo para tentar responder isso. Avaliaremos questões agronômicas, tecnológicas, estatísticas e principalmente de mercado. Estamos falando de oportunidade, mas também de desafios da cadeia produtiva do milho no Brasil", explica Celidonio.
Diário de Cuiabá
Autor: Marianna Peres