De Canarana ao porto de Santos são 1,9 mil km e desembolso, de R$ 235 t; Nova fronteira agrícola do Estado tem de driblar, e muito, a falta de infraestrutura para se manter atrativa
Plantar em Canarana, município localizado a 810 quilômetros de Cuiabá, no leste mato-grossense, é um oneroso desafio. Não bastassem os riscos inerentes à atividade agrícola, os canararenses são os mais prejudicados em Mato Grosso em relação à falta de logística, os custos de transporte superam e muito, custos na Argentina e nos Estados Unidos, atualmente os principais concorrentes da soja produzida no Brasil.
Atualmente, o município produz em torno de 800 mil toneladas de grãos e a maioria dessa produção segue para o porto de Santos, que na última safra recebeu em torno de 58% da produção de soja de Mato Grosso. As informações foram repassadas na última quarta-feira, durante 8º Circuito Aprosoja, que chegou a Canarana, no chamado Vale do Araguaia, considerada a nova fronteira agrícola do Estado.
"Nós percorremos mais de 900 quilômetros por rodovia para chegarmos ao transbordo de São Simão e, depois, seguimos por ferrovia até o porto de Santos, totalizando aproximadamente 1.900 km", explica o produtor Marcos da Rosa. Segundo ele, esse percurso é feito entre cinco e oito dias.
De acordo com os produtores, o custo do frete por tonelada na região está em torno de R$ 235. Já os produtores dos Estados Unidos enfrentam praticamente a mesma distância que os produtores do Vale do Araguaia, em torno de 1.900 quilômetros, porém, o custo com o frete por tonelada varia em torno de US$ 35, ou seja, aproximadamente R$ 72, três vezes mais que o custo dos Estados Unidos.
O representante dos Estados Unidos, Mike Marron, explicou que a vantagem é que os norte-americanos possuem boa infraestrutura e as rodovias são de excelente qualidade. "Nossa infraestrutura permite que a soja chegue rápido ao cliente, o que garante um preço maior ao produto e, por utilizamos navios, temos baixo custos", finalizou Marron. Os produtores norte-americanos contam também com boa capacidade em armazenagem e a maioria deles têm armazéns em suas propriedades.
Na Argentina, por exemplo, onde 80% da safra é escoada por caminhões, o frete varia em torno de US$ 45. Segundo o consultor argentino Alejandro Vejrup, da Associação Argentina de Consórcios Regionais de Experimentos Agropecuários (AACREA), a quase totalidade da safra argentina está a menos de 400 quilômetros dos portos, o que facilita o escoamento e ameniza os custos.
ARGENTINA - Plantar na Argentina é três vezes mais barato que no nordeste mato-grossense. Lá se gasta aproximadamente R$ 400 reais por hectare. "Nós aqui gastamos em torno de R$ 1.200,00, com uma produção com uso de média tecnologia", explica o engenheiro agrônomo que atende os produtores do município de Querência (945 quilômetros do nordeste de Cuiabá) há mais de 25 anos, Adão Calmo. Segundo ele, o custo na região varia de R$ 1.110,00 a R$ 1.300,00, dependendo do uso de tecnologia. E o que mais onera é o adubo, que representa em torno de 40% dos custos.
Na Argentina, 50% a 60% da produção de soja é feita em área arrendada. Com o arrendamento, o custo por hectare chega a R$ 480,00 e os contratos são feitos anualmente, o que deixa os produtores argentinos inseguros quanto à produção. "Os contratos são as grandes preocupações dos produtores argentinos, porque nós não temos certeza de que na próxima safra poderemos plantar na mesma área", explicou o consultor argentino Alejandro Vejrup, da Associação Argentina de Consórcios Regionais de Experimentos Agropecuários (AACREA).
O município recebeu na última terça-feira o oitavo Circuito Aprosoja. Querência é responsável por 4,4% da produção de soja de Mato Grosso, com mais de 340 mil hectares cultivados com soja na safra 2012/13 e faz parte da chamada nova fronteira agrícola do Estado.
Diário de Cuiabá