SÃO PAULO - As vendas de defensivos agrícolas saltaram 28 por cento até maio, com produtores buscando se proteger da alta do dólar, que deve pesar sobre os custos de produção da safra 2013/14, uma vez que os principais insumos agrícolas têm preços dolarizados, disse o diretor-executivo da associação que reúne a indústria.
"Agora é entressafra, o que vemos é que tem mais produtor fazendo hedge, compra antecipada... para se proteger do risco cambial", disse o diretor-executivo da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), Eduardo Daher, em entrevista à Reuters.
O executivo pondera que, passado este período, as compras devem ceder para níveis mais próximos do estimado pela indústria, que prevê um crescimento de 8 a 10 por cento nas vendas de defensivos, para perto de 19 bilhões de reais neste ano.
Para a Andef, o crescimento da receita em reais do setor de agroquímicos será puxado pelo efeito câmbio, o aumento de área cultivada e reforço nos cuidados técnicos com a lavoura, em meio à melhor rentabilidade do setor, que estimula os investimentos.
Tradicionalmente, as vendas de defensivos são mais fortes no segundo semestre do ano, quando os produtores estão em fase de preparação para o cultivo da safra de verão.
Entre janeiro e maio deste ano, as vendas de defensivos agrícolas --incluindo herbicidas, fungicidas, inseticidas e acaricidas-- somaram 4,823 bilhões de reais, segundo os dados compilados pelo Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (Sindag).
O diretor da Andef lembra que, em um primeiro momento, o dólar alto é favorável ao produtor, uma vez que reforça as oportunidades de venda e aumenta a rentabilidade, mas depois é preciso incluir na conta o custo deste câmbio valorizado, que impacta nas compras de insumos.
"O dólar para cima é o capítulo mais alegre da novela do produtor e exportador brasileiro; mas no primeiro dia. No mês seguinte, ele lembra que paga em dólar pelo fertilizante e o ingrediente ativo (defensivos)", disse Daher.
Este é o cenário que deve pesar sobre o setor no próximo ano na avaliação do executivo, acendendo um sinal de alerta para a cadeia do agronegócio.
"O ano de 2014 será de cautela", disse, acrescentando que no "capítulo seguinte" entram as preocupações com custos de produção de frangos e suínos.
CULTURAS
O crescimento das vendas de defensivos vem sendo puxado pela soja e o milho. Além do crescimento esperado no plantio na próxima safra, essas commodities seguem com preços sustentados no mercado internacional, enquanto a cana, laranja e café operam em um cenário baixista.
As duas culturas, que juntas respondem por mais de 80 por cento da safra nacional de grãos, têm estimativas de produção recordes em 2013/14 entre as principais consultorias.
Entre as classes de defensivos, a venda de inseticidas foi a que teve maior alta percentual, de 35 por cento entre janeiro a maio ante igual período do ano passado, somando 1,9 bilhão de reais.
O levantamento do Sindag indicou que 40 por cento das vendas no período foram destinadas para os inseticidas, contra 38 por cento para herbicidas e 17 por cento para fungicidas.
Daher estimou que este comportamento deve se repetir ao longo de 2013, podendo mudar um padrão comum no país, em que as vendas de fungicidas costumavam dominar o mercado.
Ele ponderou que ainda é cedo para tal avaliação, porque a venda de fungicidas está muito ligada ao clima, mas considera que isso pode acontecer se não houver nenhum evento climático severo.
Um clima muito quente e úmido propicia a propagação de fungos, uma situação muito comum no verão brasileiro. Daher lembra que, neste cenário, a condição das lavouras precisa ser acompanhada de perto, especialmente pelo perigo da ferrugem asiática, uma doença fúngica que já provocou fortes prejuízos, em especial às plantações de soja.
O crescimento da comercialização de inseticidas reflete a demanda maior por parte dos produtores de soja, feijão e milho.
Mas o algodão é uma cultura que tem demandado atenção, por conta da alta incidência da helicoverpa, uma lagarta que provocou fortes perdas de produtividade no oeste baiano no ciclo 2012/13, além de elevar os gastos com manejo por demandar mais aplicações de defensivos.
"Houve muita demora para aprovar produtos (defensivos) para a helicoverpa... Mas enquanto isso, a lagarta continuou causando estragos. É preciso mais celeridade", avaliou.
Reuters
Autor: Fabíola Gomes