Após dez anos de liberação comercial da primeira semente geneticamente modificada no Brasil, campo dá início à segunda geração da soja
Uma nova fase da biotecnologia nasce no Brasil nesta safra e por meio do mesmo produto que inaugurou o plantio de transgênicos no país há dez anos. Sementes de uma nova soja geneticamente modificada devem chegar ao mercado com o desafio de conquistar o campo. A variedade, desenvolvida pela norte-americana Monsanto, foi recentemente aprovada pela China, principal consumidor da soja brasileira. A oferta de sementes é limitada, conforme a indústria, mas a expectativa é de que, após os primeiros resultados, os produtores passem a apostar fortemente no cultivo da tecnologia.
A nova soja deve ocupar 10% do terreno total a ser destinado à cultura no ciclo 2013/14, que tem plantio programado a partir da segunda quinzena de setembro, conforme estimativas da Associação Brasileira de Sementes (Abrasem) e da própria empresa detentora da patente. "Provavelmente, só na safra 2015/16, depois que novas empresas passarem a multiplicar a tecnologia, será possível abastecer todo o mercado potencial", afirma Narciso Barison Neto, presidente da Abrasem. Ele calcula que a Monsanto colocará à venda 2,8 milhões de sacas ainda nesta semana.
A perspectiva de adesão em massa do setor produtivo à variedade está baseada na promessa de ganhos turbinados em relação à primeira geração. Se na primeira fase, o grão apresentava resistência ao glifosato – herbicida que extermina ervas daninhas no campo –, na segunda, a tecnologia ainda promete resistência aos principais insetos que atacam as plantações.
Desafio
Além da oferta limitada de sementes, a inovação tem outros desafios até atingir índices semelhantes aos da primeira geração, que hoje domina cerca de 90% dos campos brasileiros, conforme levantamento da Expedição Safra Gazeta do Povo. Entre os entraves à expansão da tecnologia está o manejo. A área de refúgio para tecnologia deve ser de pelo menos 20% da área total plantada com soja. Além disso, a distância máxima entre a área de refúgio e lavoura de soja transgênica deve ser de 800 metros, na mesma propriedade rural. Há indefinição do valor dos royalties sobre o uso da variedade. Em fevereiro, antes da aprovação chinesa, o valor divulgado pela Monsanto foi de R$ 115 por hectare. "Acredito que haverá valores abaixo dos anunciados anteriormente", diz Barison. "Nós estamos compilando os dados para definir a política de mercado", ressalta o diretor de Marketing da empresa, Leonardo Bastos. O valor cobrado pela semente antiga é de R$ 26/hectare.
Balanço
Entre benefícios e polêmicas, é fato que os transgênicos modificaram a agricultura brasileira na última década. "Além do ganho de produtividade e redução dos custos [menos aplicação de químicos], os transgênicos exigiram que as sementes convencionais também melhorassem para que continuassem no mercado", avalia Alexandre Mittelstedt, agricultor em Ponta Grossa. "Se por um lado tem o aumento nos índices médios de produtividade e redução dos custos, do outro, tem a cobrança do royalty, que deve ficar mais pesada", pondera o produtor Emerson Penachiotti, de Itambé (Norte do Paraná).
10% da área total é quanto a nova geração de sementes de soja geneticamente modificadas deve ocupar no Brasil na safra 2013/14, que começa a ser plantada no final de setembro no país.
Gazeta do Povo
Autor: Carlos Guimarães Filho