Passando da hora de o produtor de MT tomar decisão sobre o ciclo, volatilidade da saca e do dólar adiam desembaraço
Daqui a menos de um mês, quando chegar ao fim o período proibitivo de cultivo da soja - regulamentado pelo Vazio Sanitário - o produtor mato-grossense estará liberado para dar início a nova safra nacional de soja do Brasil. A retomada das máquinas no campo será apenas uma questão de clima, ou seja, de chuvas suficientes para garantir a germinação inicial das plantas. Apesar do curto intervalo de tempo que resta, muitos produtores ainda não tomaram de forma plena a decisão de como vão gerir o ciclo 2013/14 que se desenha sobre um cenário de alta volatilidade, tanto sobre o preços internacionais da commodity, como do dólar.
Muitos, às vésperas do plantio só comercializaram a soja de forma antecipada com o objetivo de garantir os insumos, ou seja, na prática, o que entrou foi para dar o start da nova safra e não como um negócio propriamente dito da venda de soja no mercado futuro, que funciona como um mecanismo para o produtor garantir um mínimo de renda. Eles, mesmos cientes da evolução positiva da safra norte-americana, ainda mantêm a esperança de que há espaço para as cotações aumentarem mais um pouco, mas o tempo está seguindo em desfavor dos indecisos e dos mais cautelosos. Quem não travar agora, corre o risco de perder um momento de bons negócios à espera de um momento de ótimos negócios que talvez não surja mais, pelo menos no curto prazo.
A cautela ou a indecisão está visível no balanço das vendas futuras, como uma "comercialização freada", como o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) classifica este momento. Conforme o Boletim da Soja divulgado nesta segunda-feira (19), por mais um mês a comercialização teve desempenho lento, quando comparado com o mesmo período do ano passado. "A comercialização da safra futura teve uma elevação de apenas 4,6 pontos percentuais (p.p.), chegando a 31,2%, ante 58,6% do ano passado".
Como aponta o Boletim, as maiores evoluções ocorreram nas regiões noroeste e oeste, justamente as regiões que estavam mais atrasadas em relação à comercialização dos insumos, mostrando que a perspectiva de mais aumentos no dólar – e consequentemente sobre os insumos - fez com que os produtores, principalmente das duas regiões citadas, fizessem a troca de soja futura por insumos e elevassem o volume de soja comprometido.
"O principal fator da pequena evolução na comercialização está no preço futuro pago ao produtor, que no mês de julho fechou com média de R$ 44,82 a saca, enquanto o custo total para produzir a mesma saca estava em R$ 47,23, considerando produtividade de 51 sacas por hectare, relação adversa que deixaria o produtor com um prejuízo de R$ 2,41 por saca", explica o Boletim. Com os novos parâmetros de preços oferecidos na semana passada, a evolução na comercialização deve aumentar no próximo mês.
A comercialização da safra 2012/13, por sua vez, está em 94,4% dos mais de 23,5 milhões de toneladas colhidas, com uma evolução pequena de apenas 1,4 p.p. "Nem a elevação do dólar, que impactou no preço da soja disponível, animou os produtores a comercializar sua safra. Eles estão à espera de melhores preços, como ocorreu no ano passado no mês de setembro. Desta forma os produtores devem ficar atentos aos sinais do mercado, visto que os preços podem vir a ter quedas após o início da colheita norte-americana", produção que neste momento é o principal fundamento para a formação dos preços futuros, destaca o Boletim.
PREÇOS - Influenciados pelo mercado internacional e pela desvalorização do real, os preços pagos pela saca de soja futura, com entrega para fevereiro de 2014 e pagamento no mês seguinte, apresentaram alta semana passada. "Em resposta à alta de 4,9% ocorrida na Bolsa de Valores de Chicago, aliada à alta de 5,3% do dólar, que encerrou a semana a R$ 2,40, a média estadual de preços pagos pela saca de soja foi 7,6% superior à média da semana anterior, de R$ 46,79".
No município de Primavera do Leste a saca de soja com entrega em fevereiro/14 fechou cotada a R$ 53,10, variação de 15,9% em relação ao fechamento da semana retrasada. Em Diamantino e Sinop as médias na semana foram de R$ 43,87/sc e de R$ 43,53/sc, respectivamente, com variação semanal de 14,3% e 12,4%, fechando em R$ 47/sc e R$ 45,25/sc.
Diário de Cuiabá
Autor: Marianna Peres