por Leonardo Gottems
Pesquisadores da Universidade de Queensland (Austrália) descobriram um componente natural do veneno da espécie de tarântula local (Selenotypus plumpies) que é mais potente contra a Helicoverpa armigera do que os inseticidas químicos existentes. A toxina conhecida como "OAIP-1" foi identificada pelo professor Glenn King e pela Dr. Maggie Hardy , do Instituto de Biosciência Molecular (órgão de pesquisa da academia).
De acordo com King, o OAIP-1 pode ser utilizado para desenvolver um defensivo que não traria danos ao meio ambiente. "Há uma necessidade urgente de novos inseticidas, devido ao fato de que os insetos já se tornaram resistentes aos produtos atuais, e outras substâncias tiveram seus registros cancelados por oferecer riscos ecológicos e à saúde dos seres humanos", disse ele.
O professor destaca que a principal aplicação deste veneno é contra a Helicoverpa armigera, que tem "causado elevados prejuízos econômicos para as culturas". "A toxina que isolamos é mais potente contra essa praga do que os inseticidas químicos existentes" explica. O estudo publicado pela equipe afirma que o OAIP-1 tem uma potência semelhante à do inseticida sintético imidaclopride.
"Afirma-se que os peptídeos do veneno de aranha não são ativos por via oral, e portanto não seriam inseticidas úteis. Contrariamente a este dogma , nós mostramos que é possível isolar esses peptídeos com altos níveis de atividade inseticida oral. Foi empolgante!", comemorou King.
"Nosso estudo indica que é possível isolar esses compostos a partir do veneno de aranhas e provavelmente de outros animais peçonhentos que se alimentam de insetos, como centopéias e escorpiões. O próximo passo é determinar se o OAIP -1 é seguro para organismos não-alvo, incluindo os polinizadores (abelhas por exemplo) e inimigos naturais das pragas, como as joaninhas", ressalta o especialista.
King adianta que o objetivo é usar a tecnologia genética, e não cultivar tarântulas para produzir novos inseticidas. Essas substâncias poderiam ser desenvolvidos por meio de bactérias ou leveduras em tanques de fermentação. alternativamente, os genes insecticidas da aranha podem ser manipuladas em cultura, na mesma maneira como foram os genes de toxina Bt (Bacillus thuringiensis).
Aliás, o professor destaca que esses genes podem ser conjugados: "Uma das coisas boas é que o Bt e estes peptídeos têm diferentes modos de ação". Isso significa que seria possível projetar plantas que contivessem ambos, criando um duplo obstáculo para o desenvolvimento de resistência. A atuação seria sinérgica, pois o Bacillus thuringiensis faz furos no intestino do verme, que poderiam permitir que o veneno se difundisse para fora do corpo mais facilmente.
A descoberta vem sendo encarada como uma verdadeira "salvação da lavoura": "Um inseticida que poderia economizar bilhões de dólares dos agricultores do mundo" – foi a manchete do jornal The Australian. A publicação lembra que a Helicoverpa armigera é uma praga que provoca prejuízos estimados em US$ 5 bilhões por ano.
O estudo foi financiado pelo Conselho de Pesquisa Australiano e também envolveu Professor Norelle Daly, Dr. Mehdi Mobli e Dr. Rodrigo Morales. Os resultados foram publicados na revista científica "PLoS One".
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Autor: Leonardo Gottems