Depois de um ano de quebra, Piauí e Bahia tiveram pouca chuva no início desta temporada, mas precipitações estariam se regularizando
Com o forte avanço no Centro-Norte, o plantio da soja e do milho de verão será concluído em todo o país em três semanas dentro do prazo e com clima bom, verificou a Expedição Safra Gazeta do Povo – que viajou 10 mil quilômetros do Sudeste ao Centro-Norte com duas equipes nos últimos dez dias. Isso num ano de neutralidade climática, que representa risco de estiagens localizadas. Só ficam para mais tarde regiões mais próximas ou acima da Linha do Equador, que têm calendário distinto.
A semeadura se aproxima de 80% e deve confirmar mais de 29 milhões de hectares para a soja, uma área recorde. O Piauí passa agora de 50% e a Bahia de 70%. No Paraná e em Mato Grosso – que plantam 43% da área nacional – faltam menos de 5% das lavouras de verão. Em Goiás e Minas a tarefa também está praticamente concluída.
Numa das únicas regiões a enfrentar falta de água no início do ciclo de verão, o Piauí e o Oeste da Bahia conseguiram umidade suficiente para o avanço dos trabalhos nas últimas semanas. Trata-se da mesma região que enfrentou quebra climática com até 50 dias de seca na temporada passada.
Para os próximos dez dias, há previsão de 15 a 30 milímetros de chuva para praticamente todos os municípios apontados como polos de produção no Centro-Norte. Os produtores de Uruçuí, no Piauí, terão menos umidade, mas ainda consideram que a produção deve voltar à linha de crescimento.
O clima está voltando ao normal e o que preocupa é o controle da lagarta Helicoverpa armigera, contam os produtores Leivandro e Fernando Fritzen, de Gilbués (PI). Eles concluem até dia 20 a semeadura de 8,6 mil hectares de soja e 3 mil hectares de milho.
Milho
A alta rentabilidade prometida pela soja tem reduzido as áreas de milho no verão em Minas Gerais e Goiás, que respondem por um quarto da produção nacional. Esse recuo de até 20% já havia sido confirmado no Paraná, segundo maior produtor do cereal na estação da soja.
No entanto, uma redução entre 5% e 10% na produção nacional no verão agora não representa necessariamente recuo na produção anual. Ao contrário de Mato Grosso e do Paraná, Minas e Goiás consideram que os preços atuais justificam aposta no cereal no inverno.
Para os mineiros, "preço ruim de milho é só em Mato Grosso". A frase é do agricultor André Machado, de Uberlândia (MG), e representa a visão que os produtores do Triângulo Mineiro têm sobre o produto.
Machado já definiu que vai dobrar a área de milho no inverno para 300 hectares. Com a saca acima de R$ 22 na região, os produtores pretendem manter ou ampliar as apostas no cereal, que é consumido no próprio estado principalmente na ração destinada às granjas de aves. O quadro deve ser definido pelos produtores mato-grossenses, que colhem mais de 40% do cereal plantado a partir de janeiro e ainda avaliam custo e rentabilidade.
Venda antecipada cai até 20 pontos, mas média de preço sobe
O comportamento mais cauteloso dos produtores brasileiros reduziu as vendas antecipadas de soja em até 20 pontos. Isso mesmo em estados que comprometeram entre 40% e 60% da produção, casos de Mato Grosso e Tocantins, respectivamente. No entanto, os preços médios alcançados neste ano nos negócios realizados antes do fechamento do plantio estão acima dos afixados um ano atrás, relatam os produtores mineiros e goianos. As cotações atuais são menores que as de dezembro de 2012, mas os agricultores conseguiram aproveitar bons momentos do mercado.
No Sudoeste goiano, os agricultores estão garantindo de R$ 2 a R$ 5 por saca a mais do que nesta época do ano passado, apurou a Expedição Safra. A maior parte da produção, no entanto, ainda não foi vendida.
Em Tocantins, os produtores esclarecem a contradição aparente que impera no mercado. Se a tendência internacional dos preços é de queda, como mostram os números da Bolsa de Chicago, por que os produtores estão vendendo menos? "O produtor vendeu o que precisava por preços bons e agora está mais cauteloso. Só deve voltar a vender grandes volumes quando as cotações melhorarem ou se não tiver outra saída", avalia a agrônoma Érica Brito, da cooperativa Coapa, de Pedro Afonso (TO). Em sua avaliação, o setor está agindo de forma coletiva e orquestrada para garantir lucratividade.
A maior pressão da oferta sobre os preços deve ocorrer a partir da confirmação de safra cheia nos países da América do Sul, principalmente no Brasil, Argentina e Paraguai, entre dezembro e janeiro. Os produtores não saíram do mercado. "Até a colheita, quero estar com 50% da produção vendida", diz o agricultor Antonio José Neto, de Rio Verde (GO). Ele está comprometendo mais lentamente a produção para evitar "perdas" diante da variação do mercado. "Ano passado me precipitei e vendi pouca soja a R$ 57 e R$ 58 por saca. Hoje minha média está em R$ 55, mas espero aumentar."
Gazeta do Povo
Autor: Cassiano Ribeiro e José Rocher