Os preços dos de soja e milho tendem a ficar mais baixos, especialmente no terceiro trimestre deste ano, com expectativa de grande produção americana e reforço de estoques locais. Foi a avaliação feita pelo vice-presidente da área de agronegócios do Rabobank nos Estados Unidos, Stephen Nicholson, em entrevista a Globo Rural, concedida em São Paulo.
De um modo geral, Nicholson reforça o coro dos que acreditam em aumento de área plantada com soja e diminuição na de milho nos Estados Unidos. A diferença está apenas nos números quando se compara com as projeções divulgadas no final de março pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) no relatório de intenção de plantio.
“Depende do clima, mas acredito que haverá uma readequação de áreas de soja e milho nos Estados Unidos. Há algum tempo, os agricultores americanos eram mais monocultores, plantando milho e mais milho. Hoje eles olham mais os preços e diversificam mais entre soja e milho”, explicou o executivo.
Na soja, a projeção é de uma área plantada de 31,77 milhões de hectares, abaixo do calculado pelo USDA (32,98 milhões). Desse total, a área colhida pode ser de 31,36 milhões de hectares. Com base na produtividade estimada, a expectativa é produção em torno de 92,383 milhões de toneladas.
“Nos Estados Unidos, nós devemos ver clima normal e rendimentos muito bons, com produção recorde de soja e preços mais baixos à frente”, disse o especialista, para quem as cotações da oleaginosa na bolsa de Chicago devem permanecer entre US$ 11 e US$ 12 por bushel (27,2 Kg).
Nicholson acredita que a próxima safra americana de soja deve proporcionar uma recuperação dos estoques locais, apertados em função da demanda e problemas enfrentados em safras anteriores. Expectativas de produção maior também na América do Sul, especialmente Brasil e Argentina, também servem como fatores de pressão sobre os preços.
Do lado da demanda, ele acredita que a China deve manter a procura pelo grão. O executivo trabalha com um cenário de crescimento menor da economia chinesa e possíveis ações do governo, mas avalia que não devem interferir de forma significativa na demanda pelo grão.
“O que quer que façam, eles vão olhar quando os preços estão altos ou baixos. Então, não tenho dúvidas de que a demanda vai continuar alta para soja, farelo e óleo na China. Não vejo mudança nisso”, disse Nicholson.
Já para o milho, a projeção do Rabobank é de uma área plantada de 37,96 milhões de hectares na safra 2014/2015. O USDA projeta uma área de 39,3 milhões de hectares. A colheita deve abranger 34,72 milhões hectares, de acordo com o executivo do Rabobank. Com base neste número e na produtividade estimada, a safra pode chegar a 342,3 milhões de toneladas.
“A despeito da área menor (nos Estados Unidos), nossa visão para o milho também é baixista. Ainda vamos produzir muito nos Estados Unidos e se você olhar os estoques, eles devem se manter acima de um bilhão de bushels (25,4 milhões de toneladas)”, disse ele, para quem as cotações do produto podem se acomodar em torno de US$ 4,30 por bushel na bolsa de Chicago.
Na avaliação do executivo do Rabobank, além dos estoques elevados, o programa americano para a produção de etanol a partir do milho no território americano teria atingido um “pico”. “Não vejo um aumento na produção de etanol nem na demanda”, avaliou.
De acordo com Stephen Nicholson, a indústria do combustível “não é mais tão poderosa quanto antes”. Tem que enfrentar concorrência com o setor de alimentação animal e lidar com questionamentos de natureza moral, como o uso de alimentos para a produção de energia.
De qualquer forma, ele descartou a possibilidade de um fim do setor. “A indústria de etanol vai permanecer porque criou demanda para o milho, empregos nos Estados Unidos e trouxe benefícios para os agricultores do país. Mas mudanças estão acontecendo.”
Questionado sobre possíveis reflexos da crise política na Ucrânia sobre o mercado, Stephen Nicholson disse acreditar que o impacto mais imediato deve ocorrer sobre o trigo, mas o milho não deixa de ser uma preocupação.
O executivo disse acreditar que os estoques de milho na Ucrânia estão elevados e que o produtor local tem capacidade para planejar a próxima safra. No entanto, os custos de produção do cereal estão altos, o que pode interferir na intenção de plantio no país. “Pode haver alguma retração de plantio por causa do custo de produção. Podemos ver uma produção menor colocando pressão sobre o Brasil e a Argentina.”
Quando perguntado sobre a produção agrícola do Brasil, Stephen Nicholson fez uma avaliação positiva e destacou a importância do país para o mercado global. Segundo ele, a produção brasileira é constantemente observada nos Estados Unidos para avaliar seus impactos sobre os preços e o cenário de oferta e demanda.
“Fiquei impressionado com a sua habilidade de produzir e gerenciar suas propriedades. Minha mensagem aos produtores americanos é de que a má notícia para eles é que aqui vocês vão continuar produzindo com muita eficiência”, disse o vice-presidente de agronegócios do Rabobank.
Como ponto negativo, destacou as deficiências de infraestrutura. Classificou como um “teste gigantesco” para o produtor brasileiro transportar a soja de Mato Grosso, por exemplo, até o porto, mas se disse otimista sobre a possibilidade de melhorias.
Disse também acreditar que as diferenças de infraestrutura entre Brasil e Estados Unidos, que garante vantagem competitiva para os americanos, tende a diminuir com o tempo. “Se você observar a agricultura e o transporte nos Estados Unidos, foram quase cem anos para atingir o ponto onde estamos. No Brasil, até onde sei, quando se olha para Mato Grosso, os produtores foram para lá em 1979, 1980. São quase 35 anos. Então, há uma grande diferença.”
POR RAPHAEL SALOMÃO, DE SÃO PAULO (SP)